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sexta-feira, maio 23, 2003
Grande Verríssimo
Quase
Ainda pior que a convicçăo do năo,
É a incerteza do talvez,
É a desilusăo de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece,
Que me mata trazendo tudo
Que poderia ter sido e năo foi.
Quem quase ganhou ainda joga,
Quem quase passou ainda estuda,
Quem quase amou năo amou.
Basta pensar nas oportunidades
Que escaparam pelos dedos,
Nas chances que se perdem por medo,
Nas idéias que nunca sairăo do papel
Por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, ŕs vezes,
O que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor,
Está estampada na distância e na frieza dos sorrisos,
Na frouxidăo dos abraços,
Na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem
Até para ser feliz.
A paixăo queima, o amor enlouquece,
O desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos
Para decidir entre a alegria e a dor.
Mas năo săo.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo,
o mar năo teria ondas, os dias seriam nublados
E o arco-íris em tons de cinza.
O nada năo ilumina, năo inspira,
Năo aflige nem acalma,
Apenas amplia o vazio que
Cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia ŕ dúvida da vitória
É desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdăo,
Para os fracassos, chance,
Para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coraçăo vazio
Ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor
Năo é romance.
Năo deixe que a saudade sufoque,
Que a rotina acomode,
Que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em vocę.
Gaste mais horas realizando que sonhando...
Fazendo que planejando...
Vivendo que esperando...
Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
Quem quase vive já morreu.
Luís Fernando Veríssimo
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