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domingo, julho 04, 2004


No trem, semana passada...
Será que é o trem que me inspira, ou os livros? Fazia tempo que não escrevia.
Dentro do trem, espremida (o TGV moderno tem dois andares, e não tem espaço pras malas - minha mochila está embaixo do banco) olho pela janela imensa. Já são 10 da noite. O céu foi se escrevendo, misturando cada vez mais as cores, até o azul escuro tomar conta, e logo depois, se empretecer.
Comprei uma revista cheia de mulheres anoréxicas, e musas do verão.
Dentro dela recebo órdens: para comprar esmalte cor de rosa cintilante, e sapatos bicudos em cores vivas. Fora a revista, desembolsei 18 Euros, e saí com dois livros: Beigbeder e Updike.
Não lia fazia tempo. Sou consumidora de livros. Cada um me dura apenas alguns dias. Prefiro ler em inglês - o que me custa caro nesse país.Então tento conseguir livros por meios diferentes da compra. Não sou Rockerfeller. Mas se fosse, acho que a minha fortuna ia parar nas prateleiras de casa, com as bordas amassadas, e o interior rabiscado.
Mas hoje tinha que andar de trem, várias horas. Resolvi então investir. Comprei dois, escolhidos apressadamente na estação.
A escolha foi dura, por falta de opções. Mas não me arrependo.
Nos trems minha sorte se repete. Mulheres bonitas na minha frente, mas do lado, sempre alguém com mau hálito. Dessa vez ele é moço, simpático até. Mas abre a boca na minha direção, e sou obrigada a colar o rosto contra o vidro da janela. Não entendo esse povo. Hálito de porco é epidemia nacional.
Vou pro sul, de novo. Dessa vez a família do Monsieur também estará presente. Típicos franceses de classe média-alta.
Têm opiniões sobre tudo, principalmente aquilo que não conhecem.
Mas são bonzinhos. Nessas horas sinto falta da faladeira do meu pai. Discreto, casado à uma mulher tagarela, ele fica quieto até a conversa tomar um rumo de algum assunto do qual ele tem conhecimentos. Daí ele fala, e muito. E os outros ouvem.
Meu pai não tem diploma universitário. Sua família, grande (12 crianças), tinham poucos recursos. Quando se casou com minha mãe, de orígem mais pobre ainda, eles não tinham nem dinheiro pra comprar móveis. Em vez disso, compraram uma árvore. Cortaram o tronco, e fizeram a cama, mesa, cadeiras, tudo o que precisavam. Pouquinho à pouquinho batalaram juntos até conseguirem o que têm hoje. Tenho orgulho dos meus pais. Quando nasci, já não faltava mais nada.
Fui educada com tudo o que era necessário, mas com a experiência de quem sabe o valor que o dinheiro tem.
Pensado na minha família, tão longe, me pergunto se tenho realmente vontade de destar nesse trem, rumo à um final de semana com outra família, tão diferente, e tão distante da minha.




Bruna 8:10 PM



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