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segunda-feira, agosto 30, 2004
Food for Thought
Era uma vez uma menina chamada Maria*. Maria estudava comigo na faculdade. Era bastante inteligente, e com pais ricos, que mandavam o tipo de dinheiro que me faltava. Ela tinha um rostinho muito feinho, e se vestia de uma maneira bastante simples. Um belo dia, na época das provas, ela desapareceu. Voltou so´ no semestre seguinte, mas bastante mudada. Vestia as mesmas roupas, mas com uns sapatos de salto alto, finos, vermelhos e escandalosos. Perguntamos porque ela tinha desaparecido. Ela contou que se casou. Assim, de repente.
Muito tempo depois, quando fiquei conhecendo a peça melhor, fiu entender tudo aquilo. Na verdade ela namorava com um moço. Os pais dos dois eram muito conservadores, e não queriam saber deles andando juntos. Então casaram-se. Não porque acreditavam em casamento, ou tinham vontade de assinar um contrato, mas porque queriam morar juntos em paz, sem a desaprovação das famílias.
Achei aquilo tudo meio estranho, mas sem conhecer as famílias, não queria fazer nenhum julgamento.
Mais tarde, numa conversa com ela, fiquei ainda mais surpresa sobre a atitude deles. As famílias são muçulmanas. Perguntei o que achava da religião. Ela disse que não acreditava em religião. Perguntei se ela era espiritual. Ela respondeu que não acredita em nada disso. Nem em Deus, nem em alguma força do além, nem nada. Ela acredita em biologia. Somente biologia.
- Como assim? perguntei.
Ela explicou que tudo se explica na biologia. A vida, a morte, a cor púrpura, as flores e todo o resto. A força que faz com que os seres vivos cresçam, com que as borboletas voem. Tudo o que existe, tudo o que muita gente considera um milagre, uma creação divina, tudo. A biologia, que ainda conhecemos muito mal, tem todas as respostas.
Conversamos muito, aprendi muito. Mas não sou capaz de dizer se ela tem razão. Questão muito interessante. E não consigo resolver no que creio.
* On nomes dos personagens foram mudados, para proteger os inocentes.
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