|
quarta-feira, agosto 18, 2004
Ontém de noite, depois da historinha descrita abaixo, fui pegar meu metrô na estação Chatelet. Estava cansada, irritada, e com uma leve dor de garganta. Mas ouvi uma voz, do outro lado da estação. Essa voz vinha de uma cantora que passa muitas noites em Chatelet, com seu amigo violão. Uma mulher baixa, gorda, deselegante. Tem os dentes tortos e muito toscos. Tem um péssimo corte de cabelo. Tem pernas grossas e mal formadas. Tem roupas horríveis, e maquiagem mal feita. Mas tem uma voz que deixa a Christina Aguilera com cara de tacho *. E quando ouço a voz dela, páro tudo. Tenho um acordo comigo mesmo: Qualquer compromisso que for, pelo menos uma canção eu escuto. Porque ela canta pop barato, Beatles, ou música francesa brega, mas com uma voz que faz de qualquer coisa uma obra de arte. Tem seus groupies mendigos, que ficam com ela o tempo todo da apresentação, e os turistas e passantes, que dão moedinhas, mas de todos eles, ela recebe um respeito enorme. Chata, ela pára entre cada música, fazendo comentários inúteis, enquanto resolve o que vai cantar depois. Mas todos esperam. Ninguém reclama. Porque ela tem uma dignidade e um talento que não nos deixa escolha: esperamos, com o maior respeito do mundo.
Quem passar alguma vez por Paris, e entrando na estação Chatelet ouvir uma voz feminina, parem um pouco. Eu recomendo.
* Eu considero Christina Aguilera uma perua apelativa, com péssimas canções, mas que - convenhamos - tem uma voz maravilhosa. Just for the record.
|