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terça-feira, agosto 31, 2004
Meu room-meite novo chegou ontém. Muito fofo. Ainda está com aquele ar de visita, pergunta se pode usar o banheiro de manha, se pode pegar um pouco de pó de café emprestado, etc. Acho que daqui à pouco vai entender que mora numa casa de loucos, e que pode ficar à vontade. É um moço com princípios, artista, respeitador da natureza. Fala bastante, sobre tudo que existe nesse planeta. E tem uma namorada na Suécia, uma mocinha muito trabalhadora. Bom menino. Gostei.
segunda-feira, agosto 30, 2004
Food for Thought II
Lembrei da Maria (post abaixo) porque vi uma moça linda hoje, no metro. Maria era bem feinha. E casada. E ela sempre dizia que adorava mulheres bonitas. Coisa estranha. Mulheres que gostam de outras normalmente gostam por razões bem espercíficas. Um dia alguém perguntou se ela não sentia ciumes dessas moças. Ela explicou que prefere ver uma coisa bonita na frente dela, do que feia. Como poderia sentir ciumes? Se ela vai ter a obrigação de olhar para as pessoas em volta dela, todos os dias, melhor ter que olhar para uma Elle McPherson que uma feiosa. Mesmo que Elle estiver no escritório do marido dela? Claro, ela respondeu. Gostamos de beleza em fotografias, em plantas, natureza, flores, tudo. E o que existe de mais interessante no mundo do que uma pessoa bonita?
Food for Thought
Era uma vez uma menina chamada Maria*. Maria estudava comigo na faculdade. Era bastante inteligente, e com pais ricos, que mandavam o tipo de dinheiro que me faltava. Ela tinha um rostinho muito feinho, e se vestia de uma maneira bastante simples. Um belo dia, na época das provas, ela desapareceu. Voltou so´ no semestre seguinte, mas bastante mudada. Vestia as mesmas roupas, mas com uns sapatos de salto alto, finos, vermelhos e escandalosos. Perguntamos porque ela tinha desaparecido. Ela contou que se casou. Assim, de repente.
Muito tempo depois, quando fiquei conhecendo a peça melhor, fiu entender tudo aquilo. Na verdade ela namorava com um moço. Os pais dos dois eram muito conservadores, e não queriam saber deles andando juntos. Então casaram-se. Não porque acreditavam em casamento, ou tinham vontade de assinar um contrato, mas porque queriam morar juntos em paz, sem a desaprovação das famílias.
Achei aquilo tudo meio estranho, mas sem conhecer as famílias, não queria fazer nenhum julgamento.
Mais tarde, numa conversa com ela, fiquei ainda mais surpresa sobre a atitude deles. As famílias são muçulmanas. Perguntei o que achava da religião. Ela disse que não acreditava em religião. Perguntei se ela era espiritual. Ela respondeu que não acredita em nada disso. Nem em Deus, nem em alguma força do além, nem nada. Ela acredita em biologia. Somente biologia.
- Como assim? perguntei.
Ela explicou que tudo se explica na biologia. A vida, a morte, a cor púrpura, as flores e todo o resto. A força que faz com que os seres vivos cresçam, com que as borboletas voem. Tudo o que existe, tudo o que muita gente considera um milagre, uma creação divina, tudo. A biologia, que ainda conhecemos muito mal, tem todas as respostas.
Conversamos muito, aprendi muito. Mas não sou capaz de dizer se ela tem razão. Questão muito interessante. E não consigo resolver no que creio.
* On nomes dos personagens foram mudados, para proteger os inocentes.
Trabalhei o final de semana todo. Afffff. A gente não da valor ao tempo livre até perdê-lo. Tive que colaborar com, e sorrir aos colegas chatos. O povo, quando não está contente fica com cara de quem chupou limão e não gostou. Tento, tento muito, ficar de bem com a vida, e não deixar essa amargura me influenciar.
Amargura não gosto. Acho que ser amargo não ajuda em nada, e faz mal. Amargura não é como a tristeza. Uma vez, quando estava apaixonada por um menino, ele me disse que tristeza é uma coisa natural. A gente passa a vida tentando ser sempre feliz. Quando acontece algo, ou simplesmente estamos menos animados com a vida, todo mundo acha um crime. Tentamos voltar ao estado feliz o mais rapido possível. Mas, ele disse, a tristeza também pode ser curtida. Savoreada. Faz parte da vida, e pode ser aceita numa boa. Ninguém pode ficar bem o tempo todo.
Mas amargura, acho ruim. E o povinho anda muito amargo por aqui. Rancuras antigas, e má vontade. E tudo isso é contagioso, para quem trabalha num pequeno ambiente fechado. Tendo consciencia disso, tento não me influenciar.
quinta-feira, agosto 26, 2004
Estou ficando velha. Daqui a pouco os 30 estão aí. Posso repetir que tenho um corpinho de 23 (isso eu não inventei. A fisioterapeuta que disse - e eu acreditei), mas os sinais dos 30 não me deixam em paz.
Quando era adolescente chegava a dormir durante 16 horas, direto. Se não tinha alguém pra me acordar, eu simplesmente não acordava. Dormia em qualquer canto, e bem. Acordava sem dores nas costas, no pescoço, etc.
Hoje em dia durmo 8 horas. E basta. Depois acordo. Mesmo nas férias, finais de semana e feriados. Se eu deitar cedo posso acordar antes das 8h! E de livre, espontanea vontade. Isso é incrível. Pra mim, 8 horas sempre foi considerado deshumano.
Outro dia acordei, me espreguicei, e:
- Como dormi bem!
Antigamente, durante minha "juventude", não tinha isso de dormir "bem". Porque sempre que dormia, dormia "bem".
Hoje em dia se não acordar dez vezes durante a noite, se não me levantar pra beber água, ir ao banheiro, assoar o nariz, buscar um cobertor, tirar o cobertor, fechar a janela, etc. fico achando que dormi "bem".
Pois é. O corpinho de 23 está realmente indo rumo aos 30!
Uma biosfera no Printemps.
Printemps é uma loja de departamento parisience, grandona, bonita e cara. Vende mais para turistas do que parisiences espertos, que conhecem outros lugares onde podem encontrar os mesmos produtos. Mas a Printemps tem uma lojinha "design" dentro do Centro Pompidou. Cada vez que vou lá dou uma passada. Acho que nunca comprei nada, mas vale a pena pelas novidades e inutilidades que vendem, sempre à preços exorbitantes. Dessa ultima vez que passei, conheci, por exemplos, sacolas feitas de lona de caminhão. Sabe aqueles caminhõoes fedidos e encardidos da Marginal Pinheiros? Então. Eles tiram a lona que cobre toda a mercadoria, recortam, e fazem sacolas e bolsas. Sacolas e bolsas caríssimas. Mas ha gosto pra tudo, e essas coisas não se discute.
O que encontrei dessa vez, porém, achei incrível. Tinha uma esfera enorme, tranparente, em cima de uma mesinha. Dentro dela tinha uma areinha, e um tipo de coral. Chegando mais perto, pude ver que dentro disso nadavam muitos mini camarõezinhos. A esfera, por alguma razão, atraia todo mundo. Tinha um textinho explicativo do lado. Aquele trambolho era uma biosfera. Era fechado hermeticamente. Nada entrava, nada saía. O que vivia dentro dela era auto-suficiente. A luz faz crescer alguinhas, que alimentam os camarões, que de alguma maneira fazem o coral também sobreviver. Tudo sozinho, sem ajuda exterior. Fui perguntar o que era aquilo pra vendedora. Ela disse que custava 5,000 Euros. Era uma experiência que a Nasa mandou pro espaço, que sobreviveu, e voltou, pra agradar os clientes da Printemps. Ela me indicou, do outro lado da loja, outras mini biosferinhas, mais em conta (entre 75 e 150 Euros), que não tinham passeado, pessoalmente, pelo espaço. Eram lindas. Por alguma razão davam uma vontade irresistível de tocar, de levar pra casa.
Do lado das biosferas domésticas, tinha também uma caixinha com um gel azul. Esse tal de gel foi desenvolvido porque o povo quis levar formigas pro espaço. O problema que tiveram foi que com a pressão, a terra das formigas virava pó, o que dificultava a sobrevivências dos bichinhos. Esse tal de gel, pressão proof, conté alimentos e tudo o que as formigas precisam. Elas podem morar dentro dele, cavar tuúneis, respirar, comer, reproduzir e tudo mais. O gel estava à venda. O povo podia comprar, por num aquario em casa, caçar formiguinhas, e ter a própria produção.
Estão fazendo estes estudos pra poderem, um dia, desenvolver uma biosfera e por nós, pobres humanos, no espaço. Mas veja como são bonitinhos:
E depois eu fico com consciência pesada por comprar coisas não necessárias, como os meus dois pares de sapatos...
quarta-feira, agosto 25, 2004
Sucesso!
Ontém, depois do trabalho, consegui o inconseguível!!!! Comprei sapatos. E não foi nem um, mas DOIS pares!! Isso é inédito.
Nessa cidade, capital da moda mundial, a compra de sapatos funciona de uma maneira símples:
1) Você gosta de sapatos bico fino, do tipo mata-barata-no-canto. Você tem os pés que suportam esse formato impossível, ou é rica e possui um carro com motorista, podendo vestir até sapatilhas de cristal, sem ter que andar na vida.
2) Você é rica (com ou sem motorista) e tem disposição para gastar toda a fortuna da família nas lojas de sapato.
3) Você tem gosto de porco, e gosta de vestir sapatos cor-de-laranja e roxos, com lantejolas.
4) Você tem 180 anos, e precisa de sapatos de velha horrendos.
5) Você é rica e estudante, podendo vestir tênis maravilhosos todos os dias da semana.
6) Você é mendiga, e anda do melhor jeito possível - descalça.
7) Todas as alternativas
8) Nenhuma das alternativas.
Eu, pessoalmente, sou da alternativa 8. Por isso, minha vida se resume em comprar sapatos quando estou no Brasil, Inglaterra ou outro país longe daqui. Ou em não comprar sapatos.
Tentei vários lugares esse final de semana. Até me dispus a pagar uma fortuna e comprar um Camper amado. Mas não posso trabalhar de sapato verde com bolinhas, o que limita um pouco a escolha. Minha amiga sugeriu MiuMiu. Mostrou seu pézinho delicado, com uma bela sandála preta. Perguntei se essas coisas não custariam uns 300 Euros, mas ela me garantiu que nã era o caso. Saí do trabalho, e fui fazer uma maratona até a MiuMiu. Tinham muitos tipos barata-no-canto, e sapatos tipo 1940, muitas cores e lantejolas. (Preço médio: 290 Euros). Me poupe.
Andei mais um pouco, e entrei numa loja fuleira, perto de lá. O serviço funcionava assim: a vendedora ficava sentadinha atrás de um balcão, lendo revistas. Eu pegava o sapato que me interessava, e mostrava pra ela. A moça torcia o nariz, dizendo que não tinham essa no meu tamanho (sem perguntar o tal tamanho). Eu pegava outro. Ela falava pra mim devolver eu mesma pro lugar onde o achei, e subia, com má vontade, procurar no estoque. Ela me encontrou um deles, que ficou (PASME) confortável. Tudo bem que náo era lá uma maravilha (pretinho, simples, sem salto), mas era um preço razoavel. Depois encontrei outro bonitinho, que ela resolveu que não tinha. Sugeriu que eu esperimentasse o mesmo em marrom. Ficou bom, mas não gostei da cor. Ela insistiu pra mim comprar o marrom, mesmo, mas repeti algumas vezes que não gostava da cor. Mas agora vem o miráculo: ela ligou para as outras lojas (várias delas), até encontrar uma com o sapato em estoque! Quase caí da cadeira. Paguei tudo adiantado, claro, e ela vai telefonar quando o bendito sapato estiver na loja.
Pessoas, isso é incrível!
Hoje é o aniversário da liberação de Paris. No dia 25 de Agosto 1944 conseguiram se livrar dos alemães. O povo por aqui leva essas coisas muito a sério. Vão fazer várias comemorações pra todos os lados, com os sempre amados desfiles militares. Dessa vez, até estão treinando pra fazer bailes da época, com as roupinhas tradicionais, e as danças de casal. Tenho a impressão que a cidade vai ficar meio infernal essa noite. Mas temos que aguentar, afinal de contas, fazemos tudo por uma boa comemoraçãzinha!
terça-feira, agosto 24, 2004
A gente percebe que o Orkut está realmente lerdo quando todos os messages aparecem 6 vezes. Dá pra imaginar as pessoas apertando "send" freneticamente, enquanto o negócio não responde...
Ele estava sentadinho, pesadão, esperando, quando o vi pela primeira vez. Ele olhou pra mim, eu olhei pra ele. Algo me tentou, queria que fosse meu. Quis conhecer melhor, saber quem era. Mas não era pra ser. Virei as costas e fui embora, com uma dorzinha no coração.
Algum tempo depois, encontrei com ele outra vez. E dessa não quis perder a oportunidade. Peguei no seu corpo, explorei. Fiz tudo para tentar entendê-lo. Resolvi arriscar, e paguei.
...
O livro é muito bom. Me surpreendi. Conta a história de um antigo São Paulo, da época da minha avó. Uma moça inocente, acaba se envolvendo com muita gente diferente, que fazem com que ela suba na vida sem saber muito o que está acontecendo, e ao mesmo tempo, usando e pisando nessas mesmas pessoas. O livro conseguiu, de alguma maneira, me prender a atenção totalemente. Durante o primeiro dia, lendo no metrô esqueci de descer na minha estação. Fui descer 4 paradas depois, tive que pegar um ônibus pra voltar ao trabalho, bem atrasada.
Enfim, Marcos Rey, Café na Cama. Vale a pena.
Acabei mais um! Esse foi fácil demais, e feio demais, e olha que cobrei. Mas cliente desentendido não pede muito, e fica feliz com tudo. Fazer o quê?
segunda-feira, agosto 23, 2004
Irritação, irritação. Hoje é segunda feira, o que já não é uma boa coisa. Fui obrigada a acordar 1 hora mais cedo que o necessário, o que também é péssimo. Cheguei no trabalho, e um dos meus colegas resolveu que como é aniversário dele, não estava a fim de comparecer. (Meu aniversário foi semana passada, trabalhei como um cavalo no dia). A outra foi pra um casamento esse final de semana, e deu "alguma coisa errada" e o casamento foi adiado um dia. Agora me pergunto, o que poderia dar errado num casamento? E adiar um dia? Será que a noiva ainda não tinha certeza? Ou será que o fato da festa ser na Itália, e a vontade de tirar umas fériazinhas à mais não teria algo a ver com a "coisa errada"?
O telefone não pára, o pessoal que aparece sem marcar hora, as perguntas cretinas e a falta de lógica sobrou pra mim. Eu mereço. Essa é uma das semanas mais movimentadas do ano nesse nosso trabalho. Eu mereço.
quinta-feira, agosto 19, 2004
Uma fotogradia tirada pelo namorado de uma amiga, uma onda na Croácia. Fotografia de Dalibor Hrgarek.
Minha ginecologista chiquérrima.
Hoje tentei marcar hora com a minha ginecologista. Ela está de férias, claro. Como todo francês que se preze, durante o mês de agosto. Acontece que também tentei antes de agosto. A doutora estava com o consultório lotado durante os três próximos meses. Mas é sempre assim. Porque ela é muito chique.
Ela cuida das minhas partes íntimas desde que virei gente grande, desde que preciso de ginecologista. Mora no bairro mais chique da cidade, e tem o consultório no mesmo prédio. Dirige um BMV azul marinho, se veste com roupas caríssimas, e consegue ser mega-elegante mesmo vestida de branco, da cabeça aos pés. O anel que ela tem (na mão esquerda, para facilitar o trabalho) deve custar mais do que eu ganho durante o ano todo.
Mas não reclamo de nada disso, porque adoro a mulher. Depois de cada histoória médica francesa... Minha colega foi numa médica que tinha o consultório dentro da própria casa, com o gato e a mãe do lado. Outra que atendia o telefone, e ficava fofocando com a amiga durante a consulta (com a paciente esperando, de pernas abertas, na sala). Por isso não reclamo, e espero os meus três meses pra ter a sorte de poder vê-la...
quarta-feira, agosto 18, 2004
Ontém de noite, depois da historinha descrita abaixo, fui pegar meu metrô na estação Chatelet. Estava cansada, irritada, e com uma leve dor de garganta. Mas ouvi uma voz, do outro lado da estação. Essa voz vinha de uma cantora que passa muitas noites em Chatelet, com seu amigo violão. Uma mulher baixa, gorda, deselegante. Tem os dentes tortos e muito toscos. Tem um péssimo corte de cabelo. Tem pernas grossas e mal formadas. Tem roupas horríveis, e maquiagem mal feita. Mas tem uma voz que deixa a Christina Aguilera com cara de tacho *. E quando ouço a voz dela, páro tudo. Tenho um acordo comigo mesmo: Qualquer compromisso que for, pelo menos uma canção eu escuto. Porque ela canta pop barato, Beatles, ou música francesa brega, mas com uma voz que faz de qualquer coisa uma obra de arte. Tem seus groupies mendigos, que ficam com ela o tempo todo da apresentação, e os turistas e passantes, que dão moedinhas, mas de todos eles, ela recebe um respeito enorme. Chata, ela pára entre cada música, fazendo comentários inúteis, enquanto resolve o que vai cantar depois. Mas todos esperam. Ninguém reclama. Porque ela tem uma dignidade e um talento que não nos deixa escolha: esperamos, com o maior respeito do mundo.
Quem passar alguma vez por Paris, e entrando na estação Chatelet ouvir uma voz feminina, parem um pouco. Eu recomendo.
* Eu considero Christina Aguilera uma perua apelativa, com péssimas canções, mas que - convenhamos - tem uma voz maravilhosa. Just for the record.
Os chatos é que têm razão...
Minha irmãzinha me ligou ontém, propondo um cinema. Estava meio cansada, vou trabalhar dois finais de semana seguidos, preciso dormir. Mas o moral dela está meio pra baixo, e achei que seria legal acompanhá-la. Convidei o Monsieur pra vir junto.
Cheguei no cinema antes deles. Tinham uns 15 filmes passando, dos quais 12 eram uma porcaria, 1 era pesado e triste, 1 era comédia boba, e outro um filme de criança. Mas como sou uma pessoa legal, e como estava pra assisitir um filme com duas outras pessoas, resolvi ficar com a mente aberta, e esperar ouvir a opinião deles. Com bom humor. Chegou o Monsieur, olhou os cartazes, e começou a reclamar. Não gostou das opções, dos horários, do lugar, do fato que a gente não tinha resolvido qual filme veríamos, etc. Fiz algumas sugestões, optando pela calma, sutileza, e falta total de pressão. Chegou minha irmã. Sem ter a mínima idéia do que se tratavam, sugeriu outros filmes, bem diferentes. Expliquei (com calma, sutileza, e falta total de pressão) que eram ruins, e que ela não ia gostar. Deu briga, e emburramento geral entre os dois. Tentei ficar neutra, sem impor minhas vontades, pra tentar agradar os dois. Eles, com suas cabecinhas de mula, continuaram intransigentes. Entrei na fila, sendo que o lugar já estava lotando. Eles continuaram brigando até chegarmos ao caixa. Á essa altura a maioria dos filmes estavam quase totalmente lotados. Optamos por Shrek2, que ainda tinha algumas vagas. Ela emburrou porque não queria ver "homenzinhos verdes, em vez de gente de verdade". Ele emburrou porque não queria ver o 2 antes de ver o 1. E eu sentei entre os dois, tentando entender, e simpatizar com todos.
Mas pensando bem, que saco! Porque tento ficar legalzinha, optar pela paz entre pssoas que sentem vontades diferentes, e no final, tenho que arcar com as caras emburradas dos dois!
O filme foi bom, engraçado e bem feito. Não tão bom quanto o primeiro, mas muito bom. Mas a experiência de ir ao cinema perdeu todo o encanto, com a chatice dos meus dois companheiros. E pra que serve toda a minha boa vontade, flexibilidade, e tetativas de impor a paz na terra, se os outros não colaboram? Acho que vou virar uma chata, como eles. Vou tentar impor minhas vontades e desejos em todos, e assim vou lidar com as caras feias, mas ao menos, tenho uma chance de escolher o filme que eu queria assistir.
segunda-feira, agosto 16, 2004
Final de semana agitado. Minha amiga que morou em Londres um ano está de passagem, antes de voltar pro Brasil. Fizemos programação turistica-cultural. Andamos muito, o dia todo. Depois de bolhas no pé e muito cansaço, voltei pro trabalho. Fomos, entre outras, no Centro Pompidou, um dos meus lugares preferidos nessa cidade. Tinha exposiccedil;ão de Giuseppe Penone. (O homen não tem site próprio, que pobreza. Ninguém avisou que sou eu a pessoa perfeita para completar todas as suas necessidades internéticas?).
Fiquei babando. Ele fez, por exemplo, esculturas com árvores, onde ele pegava um tronco, e ia descascando as camadas, uma a uma, até chegar num centro qualquer, quando a árvore era crianccedil;a. Mas ele deixava os galhos, que eram desenterrados, re-construindo a estrutura e textura antiga. Fez muitos trabalhos com seu corpo e a natureza, tentando deixar as pegadas de um no outro. Uma das salas da exposição era todinha forrada com folhas, escurinha. As pessoas entravam respirando fundo, porque o cheiro e o ar puro eram o que mais se sentia. Dava uma vontade incrível de deitar no chão e passar a tarde toda respirando.
Depois passeamos muito, aproveitando o finalzinho do verão. Ontém tivemos um bando de gente jantando em casa. Entre eles um mocinho que talvéz alugue o quartinho sobrando em casa. Um mexicano, muito simpático. Artista, de mil e uma utilidades. Tomara que dé certo. Um chico pra tomar um lugar da chica. Veremos.
sexta-feira, agosto 13, 2004
Daqui à pouco vou fazer aniversário. 29, quase 30. Mas por favor, não me mandem recadinhos de parabéns. Eu sou contra aniversários. Tipo, não acredito nessas coisas. Acho uma bosta. Quem quiser me dar presentes, tudo bem, isso a gente nunca reclama. Mas gosto de presentes porque a pessoa pensou em mim, e que foi espontânio, que foi sincero. Presente por obrigação não rola.
Foi assim: um dia estava lendo uma entrevista de uma modelo maravilhosa, que vinha de algum país Africano. A mulher era fantástica. Mas teve problemas porque não tinha documentos, e não conhecia sua data de nascimento. Na tribo dela as pessoas não contam os anos. Ninguém tem aniversário. E ninguém tem idade. Cada um tem sua experiência, seus conhecimentos, sua sabedoria. Os que sabem mais têm mais respeito dos outros. E pronto. Sem neuras de que alguém é velho/novo demais pra aprender, pra trabalhar, pra se aposentar, pra se apaixonar. Não tem limites de idade pra nada. Porque idade não significa nada. Cada um vive a vida que sente capaz de viver. Não tem gente olhando pros outros pensando que alguém tem rugas demais pra sua idade. Não tem gente que produz doenças psicológicas porque está na idade de envelhecer; ou de estar mais gorda/magra; de ter filhos ou não os ter; de ser bem sucedido; ter apartamentos, casas, empregos, grana, e carros melhores. Nada disso. Cada um no seu rítmo.
Pois então. Também quero essa vida, essa atitude. Não quero ficar aqui pensando que com 30 anos devia ter feito tal coisa, e devia ter ganho tanto, e trabalhado tanto, e ter 2.1 filhos, e marido, e casa própria. Quero viver minha vida em paz, de acordo com o que passa na minha cabeça, sem pressão.
Por isso tenho horror do meu aniversário, e de festinhas e comemoraçõoes forçadas. E de julgamentos sobre a idade de cada um. E que eu tenho cara de mais nova. E que eu devia estar casando. E que eu devia estar contente com o dia em que vou fazer meus quase 30 anos.
Hum... Então, mudei os comments. O sistema do blogger é uma merda. Botei esse SquawkBox. Mas tambem é meio limitado... Me ajudem a testar... Comentem!
quinta-feira, agosto 12, 2004
Meu amigo Chico
Consegui, através de meu dealer literário, uma coleçãozinha de livrinhos em português. Um deles foi Budapeste, pelo qual estou babando desde muitos meses. Minha mãe já tinha me informado do quanto maravilhoso é o Chico. Depois, quando trabalhava no Café Deux Magots, num belo dia chuvoso, eu viro pra sala e vejo nada mais, nada menos, que Chico sentadinho com sua filha. Eu quase que despenquei no chão. Como esse café é muito chique, eu era somente hostess. Garçons eram todos homens, sempre. Por isso não tinha o direito de servir a mesa deles. Puxei a manga do garçon da mesa dele, expliquei quem era, supliquei pra fazer um serviço 5 estrelas. O garçon não entendeu pra que tanta frescura. Quem merecia tratamento especial era o Raí, que na época passava também pelo café. Afinal das contas, quem era essa carinha, comparado a um astro de futebol??? Sorri amarelo, e pedi pra ele ser legal, só por mim. (O serviço em cafés chiques francesas são de dar vergonha). Chico e sua filha maravilhosa tomaram um chocolate quente. Eu me escondi atrás do caixa, e só observei de longe, torcendo as mãos e mastigando as unhas. Quando eles foram embora, fiquei do lado da porta, dei um sorrizo gigante, e falei "voltem sempre" em português. Eles deram uma olhadinha na minha direção, e agradeceram. Eu quase morri. Desde então dei razão à minha mãe, e também li Estorvo. Daí dei mais um pouco de razão à minha mãe. E Budapeste é maravilhoso. Quem não leu, vai lá, vale a pena!
Revolução:
Coloquei comments! Nunca tinha feito isso antes, porque não gosto de gente que vem fazer auto-promoção em blogues alheios. Portanto aviso: vou apagar comments do tipo "venha visitar meu blogue". Se quiser deixar um comment, que comente então! Muito grata...
However, achei uma porcaria esses comments do blogger. Alguém tem sugestão de um sistema melhor?
quarta-feira, agosto 11, 2004
MUDAR Edson Marques
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado darua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dâ os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros, Viva outros romances. Não faça do hábito umestilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. a nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outrosrestaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Se você não encontrar razíes para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!!!!
Quem está no Orkut pode me explicar pra que serve esse negócio? Porque estou lá dentro, bonitinha, e entro quase todos os dias, mas ainda não entendo muito bem porqu?. Mais uma inutilidade agradável? Ou tem outro sentido, que ainda não chegou nessas terras?
Muito grata.
Seu Rogério
Ganhei, um dia desses, um livro. A pessoa que me deu esse presentinho não me conhece muito bem, e resolveu me fazer um agrado, sem antes tentar entender quem eu sou. Se tivesse feito isso, teria mudado de idéia sobre o tal presente. O livro conta historinhas sobre soldados, durante a segunda guerra mundial. Adoro livros, mas sem essa de guerra. A coisa que eu mais odeio no mundo é guerra, e militares. Isso vem de quando eu virei gente grande, e aprendi a pensar. Não acredito em matar pessoas, não acredito em violência. Conheço o papo clássico: se não tivesse gente pronta a lutar, a europa estaria falando alemão. Tudo bem, tudo bem. A europa seria toda loirinha. E eu amo morenos. Mas tudo bem. Não tenho um argumento lógico, mas não acredito em guerras.
Um dia, quando era adolescente, minha mãe entrou no meu quarto pra anunciar que meu avô tinha morrido. Na verdade, eu já sabia. Seu Rogério ficou com cancer. Seu corpo foi parando de funcionar, pouco á pouco. Eu já tinha me despedido dele. Lembro muito bem da última vez que vi meu avô. Ele estava na cama dele, no sítio onde passou a ultima parte de sua vida. Ele não acreditava em hospitais, e tubos e remédios. Resolveu morrer em casa, tranquilo. Sai do seu quarto, e fui assistir o por do sol do lado de fora, na balança que eles colocaram na árvora na frente de sua casa. Enquanto observava o céu mudando de cor, pensava no meu avô.
Tenho pena d'ele ter morrido quando eu era jóvem. Porque queria ter conversado com ele agora, que sou gente grande, com ideias formadas. Na época eu não pensava em muita coisa além das preocupações clássicas de adolescentes. Mas agora penso muito como ele.
Seu Rogério nasceu durante a Primeira Guerra, na França. Seu pai era soldado. Lutou lá na frente, defendendo sua pátria. Presenciou coisas horriveis. Foi ferido, e ficou um bom tempo no hospital. Quando se recuperou, o colocaram pra dirigir ambulâncias. Foi lá que ele viu coisas piores ainda. Quando voltou pra casa ensinou o filho o que aprendeu: Nada disso vale a pena. Faça o que quiser na sua vida, mas nunca, nunca, vá pra guerra.
Quando meu avô fez 18 anos, estava na época da Segunda Guerra. Convidaram ele pra fazer seu serviço militar. Ele disse não. Não acreditava em militares, não acreditava em armas, não mataria outro ser vivo por nada nesse mundo. Muito menos pra defender uma pátria delimitada por fronteiras que não existem na natureza.
Colocaram ele na prisão. Quando foi solto, enviaram ele de volta ao serviço militar. Ele se recusou, foi preso outra vez. Isso aconteceu três vezes. Na terceira vez que o soltaram, pegou um navio pra Inglaterra, e jogou seu passaporte francês no mar. Nunca mais voltou ao seu país, nunca mais viu sua mãe.
Na Inglaterra, conheceu minha avó, fez um filho. Depois se juntou a um grupo de pacifistas, que fugiram da Europa, e foram fundar uma comunidade no Paraguai, país que aceitou um bando de jóvens sem documentos, e sem dinheiro. Fez mais 11 filhos, entre eles, meu pai.
Não sei o que ele diria ao saber que moro no seu país, que aprendi sua língua. Mas acho que ele ficaria feliz em saber que sua neta continua pacifista como ele. E que tem arrepios ao ver meninos vestidos com roupas militares, carregando máquinas de matar pessoas, e executando órdens que nem entendem. Ficaria feliz de saber que sua neta não consegue ler livros sobre soldados e guerras que matam mas não resolvem nada.
terça-feira, agosto 10, 2004
Voltei. Rodeada de livros, e de insonia. De insonia e dor de cabeça. Mas tudo isso passa. Sempre passa. Também estou com o coração apertadinho, apertadinho. A Chica que morava em casa foi-se embora ontém. Voltou pra terra dela. Agora só sobrou minha sistah e eu. Sentir falta das pessoas é foda. Isso não devia acontecer. O mundo devia ser feito de um jeito onde todas as pessoas queridas ficariam automaticamente por perto.
Agora sobrou a insonia. E muitas palavrinhas que ficam voando em volta da minha cabeça, com vontade de sair. E vou.
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