|
quinta-feira, dezembro 30, 2004
Hoje é o último dia nornal do ano. Depois chega 2005. Amanha tem festinha sem graça de gringo (é isso aí, amigos, ano novo em Paris não tem nada de glamour, e gringo não sabe fazer festas. Faz frio demais para se sair ver fogos, e depois ficar sem poder voltar pra casa, porque o metrô fechou e não se pode encontrar taxis numa hora dessas ... e ninguém veste branco. Não se iludem, o melhor lugar do mundo pra se passar o ano é numa praia brasileira!).
Amarga, eu, né? Desculpem. Mas é que não gosto dessas histórias de Natal e Ano Novo. Primeiro que já sabemos que Jesus não nasceu nesse dia. Se é que nasceu, né. E se nasceu, devíamos mais é ter dó de Maria, que teve um filho virgem!
Mas brincadeiras à parte, acho que a obrigação de festejar e comprar presentes é meio hipocrisia. Todo mundo estressado pra comprar presentes com o restinho de grana que sobrou do ano todo, e depois ainda recebemos um monte de coisinhas que não precisávamos. Tudo bem, tudo bem, não sou perfeita, e sou consumista sim, e foi legal pensar nos próximos e dar presentes, mas porque não posso, por exemplo, doar uma grana às ongs que estão tentando ajudar as vítimas das loucuras dos maremotos do outro lado do nosso planeta em vez de comprar um presente pra sogra? Porque não posso dar um pouco de compreensão e tolerância de Natal? Dar uma idéia anti-preconceituosa, de aceitação à duas mulheres que se amam e gostariam de poder se beijar em público? Porque não posso dar paciência e educação às pessoas que empurram as outras quando tentam sair do metro parisience? Porque não posso doar algumas horas à uma instituição que cuida de mulheres que foram espancadas pelos maridos? Gostaria de dar amor, carinho, tempo.... em vez de te dar um CD ou uma camiseta, te dar uma hora de conversa fiada na areia da praia. Te dar uma hora de cafuné. Receber teu telefonema no meio da noite, porque você está nervoso, mesmo que eu devo acordar cedo no dia seguinte.
Gostaria de dar presentes nos dias em que tive vontade de presentear alguém, porque sim, e não porque é Natal. Gostaria de dar uma festa num dia que tenho vontade, e não no dia do ano novo. Gostaria de desejar felicidades aos amigos no meio do mês de Novembro, por exemplo. Porque o mês de Novembro é duro na Europa.
Mas essas coisas não se fazem.
Então faço minha listinha de como melhorar minha vida em 2005:
Comer menos porcaria e emagrecer,
Não faltar na capoeira por preguiça,
Conseguir um emprego à meio-período, que me deixe o tempo de fazer sites,
Não me irritar com os colegar chatos no trabalho,
Aprender espanhol perfeitamente,
Parar de ter dores de cabeça,
Parar de brigar com minha irmã e com o Monsieur,
Ler milhões de livros maravilhosos,
Ter o tempo de telefonar para todos da minha família...
Então desejo à todos muto amor, e sorte e coisas maravilhosas pro ano que vem, do fundo do coração.
Essa semana estou de férias, oficialmente. Nunca esperei por férias com tanta expectative. Fomos dois diazinhos pra Amsterã, que é uma cidade maravilhosa. As pessoas simpáticas, tudo limpinho, com casinhas de bonecas. Tudo muito lindo, e muito design. Qualquer café ou restaurante, loja ou bar em que entramos era hyper design. A gente se sente artista automaticamente. As próprias pessoas eram design.
Queria me mudar pra lá imediatamente.
Tudo bem, sei que tudo isso é meio ingenuidade minha. Talvéz fora do centro deve ser horrível, com europeus gordos e côr de rosa, e casas feias, gente chata. Mas pelo que ví, o lugar é um sonho.
Agora, de volta em casa, passei alguns dias trabalhando em casa, como um cavalo, pro site do PhotosGraphies. Está quase pronto, não consigo nem imaginar o que deve ser a minha vida sem os 10 ou 15 e-mails diários do homen.
E hoje fui passear. Assim, passear só por passear! Parece que não faço isso ha anos! Nunca tenho tempo. Mas hoje entrei em lojinhas, olhei para vitrines, só faltava ter esperimentado botas! Que coisa maravilhosa! Como eu queria ser uma dona de casa rica e desocupada. Que vida perfeita! Ou pelo menos ser uma velha aposetada. Mas ter tempo, tempo pra passear sem se sentir culpada, sem pensar nos sites que esperam. Ai, ai, ai... Não tem ninguém por aí que conhece um marido rico à alugar?
quarta-feira, dezembro 29, 2004
Amsterdã
Voltamos ontém à noite dessa maravilhosa cidade... (Clickem na imagem para ver fotinhos).
terça-feira, dezembro 21, 2004
Ééééé... Alguém sabe o que é esse "trackback" aí embaixo?
Pronto, amigos... Coloquei um novo sistema de comments do Haloscan... Me parece muito bom, eles não pedem grana, e não fazem terrorismo. Enjoy!
segunda-feira, dezembro 20, 2004
Esse final de semana sonhei com o meu acupuntor. Merrrmão! Fui vê-lo pela primeira vez duas semanas atrás. Foi completamente diferente da minha antiga acupuntora. Ela fazia tudo em 20 minutos. Esse moço cuidou de mim durante 2 horas. Me fez milhões de perguntas, colocou as agulinhas, mediu meu pulso, me deu um cobertor, e me deixou na sala escurinha. Tudo com tanto carinho, que fiquei com vontade de pagar o triplo do que ele pediu.
A idéia era me ajudar com as dores de cabeça. Achei que ajudaria, mas não imaginei que seriam curadas nem um segundo. E não é que passaram os meus dias reservados às dores, e não senti nada! Tudo bem, talvéz seja uma coincidência, mas se ele acabar com isso pra mim, vou adorá-lo, e beijar seus pés até o fim dos meus dias.
Conclusão: fiquei pensando nele, e sonhei com o moçoilo. Ele me parece tão jóvem para ser "fazedor de milágres" (porque acabar com as minhas dores de cabeça só poderia ser considerado um milágre). Volto vê-lo essa semana. Que homen fofo!
sábado, dezembro 18, 2004
Os meus comments queridos sumiram. O squawkbox, serviço que uso, desapareceu com todos os meus comments, e diz que tenho que pagar 14 pounds por MES, pra poder recuperá-los. Terrorismo de primeira. Claro que nunca me disseram nada disso antes, nunca me deram nem um warning. Tudo na vida tem um preço. Serviços de graça não existem, por mais que insistimos. Vejam todos os blogs que sumiram por aí, porque o serviço resolveu pedir uma grana, ou simplesmente resolveram que não valia mais a pena existir.
Mandei um e-mail pra eles, porque são ingleses, e que tenho o preconceito de que ingleses são legais, e "reasonable". Veremos. Mas me parece que tudo o que vocês me escreveram vai pras cucuias mesmo. Raiva, ódio, ira!
sexta-feira, dezembro 17, 2004
Os Homens e os Cosméticos:
O primeiro (e melhor) homen da minha vida, meu pai, tem o que eu achava ser hábitos normais. Se apronta de manha em 5 minutos, toma banho com qualquer shampoo e sabonete que estiver por perto, penteia o cabelo, faz a barba, e pronto, sai de casa feliz da vida.
Depois fui pra faculdade, e morei com um namorado. Ele também tinha hábitos parecidos aos do meu pai. Simples, sem frescura. Durante um tempo, naquela época, abrigamos um amigo homosexual. Lee entupiu meu modesto banheiro de cosméticos. E sendo o banheiro bem parisience (pequeno) os produtos foram transbordando, aparecendo na estante da sala, no quarto, em todo e qualquer canto da casa que ele encontrava. Eram cremes, produtos capilares, perfumes, lentes de contado de todas as cores, amaciantes para roupas, cremes e máquinas de depilação (não me perguntem), tinta de cabelo, secadores, yada, yada, yada. A lista era sem fim. Mas eu entendia, afinal de contas, meu querido amigo é homosexual.
Demorei para entender, pelos exemplos que tinha na minha simples e inocente vida universitária. Mas fui parar com um namorado que se perfumava, e passava cremes auto-bronzeantes (é assim que se chamam?). Ele reclamava que eu não usava maquillagem. E me comprou uma garrafinha do tal creme. Sendo jóvem e tonta, passei nos braços, pra testar. Fiquei toda manchada, e cor de laranja. Tive que usar mangas muito compridas, que cobriam as mãos, durante vááárias semanas.
Depois veio outro namorado, feio de rosto, mas muito bem vestido. Ele tinha outros tipos de frescuras: shampoo e creme especial para queda de cabelos, creme especial de rosto contra espinhas, uma meleca especial para hidratas os lábios, hidratante para o corpo em spray, etc.
E eu achava tudo isso demais. Mas o Monsieur me aparece com cada uma! Quando vou dormir na casa dele uso o shampoo dele, o desodorante dele, levo rimel, e pronto. Quando ele vem em casa aparece com um sacolão. Tem creme e pós barba chique (daqueles que não se encontra em supermercados), tem perfume, tem hidratante para o rosto, tem gel especial para os cachos (e ai de mim se quiser fazer um carinho no cabelo dele!), pózinho especial anti-bactérias e anti-chulé, e sempre termina o longo ritual de preparação com uma passada de água mineral no rosto, porque não sei quem disse que isso ajuda com as rugas. Depois ele vem reclamar do meu shampoo, do sabonete, das toalhas, da falta de tábua de passar roupas (é isso aí minha gente, não passo roupas, não possuo nem ferro nem tábua).
E depois me pergunto, será que não sou muito mais macha do que eles? Onde estão os homens simples, como meu pai? Quando será que os fabricantes de cosméticos vão perceber que podem vender qualquer porcaria aos homens, e que a mina de ouro não se encontra mais no mercado feminino?
segunda-feira, dezembro 13, 2004
A Mayra colocou um link ao pipoca no blog dela. Queria agradecer, mas ela não tem comments, nem um e-mail. Então fica aqui mesmo: Obrigada pelo link. Gostei muito do que você escreve.
Está fazendo frio, muito frio. Um frio que corta, morde a pele. Um frio que atravessa as roupas, os músculos, e agarra os ossos, sem trégua. Todo ano acho que nunca passei tanto frio na minha vida. Mas esse ano é verdade. Não seria possível ter sobrevivido um inverno assim.
Domingo à noite meus pais telefonam, e contam das quantidades absurdas de camarão frito e caipirinha de maracujá que consumiram na praia. Eles adoram repetir que, sentadinhos num pedaço de paraíso, eles sempre se perguntam porque as filhas insistem em morar longe daquilo tudo. O negócio é que as filhas também se perguntam a mesma coisa. Só não são capazes de responder.
Sábado de manha, cedo, fui com o Monsieur fazer as malditas compras de Natal. Ano passado passei o Natal com sua família. Não conhecia ninguém, e achei que não era necessário toda a hipocrisia de comprar presentinhos para pessoas que nunca tinha encontrado na vida. Fui de mãozinhas abanando, e ganhei presentes de TODO mundo. Fiquei com cara da nova pessoa da família: egoista e ranzinza.
Esse ano não vou cometer o mesmo erro. Fomos afrontar o frio e os compradores alucinados, lutar para o direito de gastar uma grana preta, no final de semana, quando o resto da cidade inteirinha resolve fazer a mesma coisa. Fiquei orgulhosa. Conseguimos comprar tudo o que precisávamos, quase.
Acho um absurdo termos todos a obrigação de comprar presentes para pessoas que mal conhecemos, gastar uma grana preta, e recebermos coisas inúteis de volta. Mas assim é a tradição, quem sou eu pra mudar o mundo?
Domingo passei em casa, sem sair nem com a pontinha do nariz na rua. Com um frio desses, só saio por obrigação. Mas foi bom, como foi bom! Minha casinha é tão quentinha. Amo os meus plombiers.
sábado, dezembro 11, 2004
Fui ver minhas amiguinhas do salão barato mais uma vez. Expliquei o
que queria - um corte repicado - e dessa vez elas fizeram uma força. Repicaram mesmo. Saí com cara de Claude François:
sexta-feira, dezembro 10, 2004
Vou pra Amsterdam, rapidinho, dois dias, logo depois do natal. Alguém conhece? Dicas? Ideias?
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Meu curso de Flash está quase acabando. Aprendi bastante, mas o mais importante eu já sabia: mais uma vez, não aprendemos tanto as técnicas, mas temos que aprender a se virar sozinhos. E nisso sou péssima. Procuro uma besteirinha, e quando não acho, desisto logo, logo.
Meu professor é um amor. Tem enormes olhos cor de mel. Magrelo, alto, faz o tipo nerd-fashion. É bem nerd, mas não chega aos de óculos de fundo de garrafa. Tem todo o jeitinho charmoso de quem se cuida, mas continua passando a maior parte do tempo na frente de uma tela, mesmo. Cada semana tem menos gente no curso dele. Outro dia tive aula particular, eu e ele. O povo vê um pouco de programação no Flash, e se desespera. Quando eu vejo, fico torcendo pro curso não acabar nunca.
Amanhã tem mais, e depois sobra mais uma semana. Queria poder entrar no bolso do homen, e seguí-lo por todos os cantos, aprendendo por osmose. Um dia chego lá, farei trabalhos tão maravilhosos quanto aos dele!
Apareceu a Margarida.... Onde estava a Pipoca? Trabalhando, oras. Muito trabalho, muitos sites, e a volta triunfante à capoeira! Com o frio absurdo nesse país o consumo de chocolate aumentou exponencialmente. Para não ficar com cara de grávida de 6 meses, faço forcinha pra conseguir sair da minha casa, afrontar a rua gelada, e suar um pouco na aula.
Progresso nos sites... Para vocês, pré-lançamente exclusivo do atrasadíssimo site da bela Roberta... Faltam algumas mudanças ainda, mas a idéia é essa: simples e básico. Comentem...
sábado, novembro 27, 2004
Merrrrmão... Chegou a minha hora. Como todo bloguista na nossa querida cyberlândia, me deixaram um daqueles comentários, onde a gente se pergunta se deve ignorar, xingar, apagar e bloquear, ou discutir. Não foi nada de lá muito dramático, já vi muito pior... Mas confesso que a primeira reação foi de apagá-lo e fingir que não existiu. Mas o que gosto sobre blogs é que somos nós os donos do pedaço, e podemos falar do que queremos, quando queremos. Por isso continuo, sim, com as minhas besteiras e a minha ladaínha!
sábado, novembro 20, 2004
Miséria de país! Frio insuportável, chuva gelada, mal acordo e já está anoitecendo novamente. Saudades das pessoas cuja compania não tive o direito de desfrutar...
sexta-feira, novembro 19, 2004
Desde que liguei o aquecimento por aqui, no começo do inverno, só tem um lado da casa que esquenta. O outro lado continua gelado. O meu quarto, obviamente, fica do lado gelado. Enrrolei pra tentar concertar o bicho. Quando fui ver o problema, descobri que vai custar uns 250 Euros. Daí enrrolei mais um pouco. Dei uma de encanadora, minha especialidade, mas não encontrei uma solução mágica.
No começo dessa semana o Monsieur veio em casa, e foi tomar um banho. Dois minutos mais tarde ele voltou, dizendo que a água estava gelada. Como boa pessoa com ascendente em Áries (já disse que não acredito em astrologia?), achei que era besteira dele, e fui verificar. Sim, effectivement, a água estava gelada. Tentamos de tudo, o povo lá de casa, e com toda a nossa sabedoria de eletricista acumulada, não conseguimos resultado algum.
No dia seguinte liguei pra vários plombiers (encanadores), e marque uma visita pro próximo dia.
No próximo dia chegou o homen. Estranhei a falta total de ferramentas. Ele chegou todo emperiquitado, com uma maleta tipo business man. Olhou pra tudo o que apontei, e disse que mandaria o plombier.
Peraí, e você, é o que?
Parece que ele era o plombier chefe, que mandou o próximo plombier da hierarquia (mais uma vez sem ferramentas). O moço veio muitas horas mais tarde, olhou tudo, e disse que sim, teria que trocar tudo. Insisti, insisti, pedi pra ele olhar de novo, mas ele não quis nem tocas em nada, tinha que trocar tudo. E que me mandaria uma estimativa mais tarde.
Não mandou, claro.
Liguei pra agência imobiliária, desesperada. Eles disseram que mandariam outro plombier, o deles. Esperei o dia todo, e nada.
No dia seguite (observem que já estamos no dia número 5 da história) liguei de volta, mas a agencia não abre nas terças e quintas de tarde. Pode?
Hoje liguei mais uma vez. A moça disse que não vão fazer nada, que é problema do proprietário. Pedi seu número de telefone, ela não quis me dar. Perguntei o nome dela, mas ela disse que era a recepcionista. Comecei a gritar:
- Dona Recepcionista, tá fazendo uns 6 graus lá fora, estou sem aquecimento e sem água quente desde o começo da semana, estou COM FRIO! Se você não me ajudar, vou pegar o MEU plombier, fazer tudo, e te mandar a conta, certo??!!!?!?!?!?!
Algumas hora mais tarde (dá pra perceber como gritando se obtem muitas coisas nesse paí?), o done ligou, me deixou um recado. Eram 13h30. Ele disse que o plombier dele passaria em casa entre 13h30 et 15h00. Porra!!!!!!!!!!! Liguei pra minha irmã, liguei pro roomeite mexicano, desespero, desespero. Ele estará em casa. Vai se virar com o plombier numero 4.
A saga continua. Um dia desses vou poder tomar banho normalmente, sem balde e copinho, e dormir sem 20 camadas de roupa. Um dia...
quinta-feira, novembro 18, 2004
Pobro bloguito... Não te esqueci, não... Não possuo mais tempo pra escrever, blogar, ou visitar blogues amigos. Coisa horrível.
Meu chefe foi mandado embora, dois colegas pediram demissão. O chefe novo é um enooooooooooorme babaca, e colocaram uma única mocinha no lugar dos outros dois. A mocinha é simpática e sorridente, mas precisa ser treinada, e aprender muito. Precisa, principalmente, conseguir mandar um único e-mail sem ajuda pra corrigir e opinar no texto, e precisa aprender que passar o dia todo cuidando de um dossiê só não rola. Velocidade é a palavra chave. Ela ainda não entendeu.
Enquento isso estou fazendo 200% do trabalho de sempre, e quando chego em casa faço tarefas webmísticas. O blog ficou pra traz. Os e-mails também. Mas daqui a pouco eu mando tudo isso pras cucuias, e volto com tudo. Vocês vão ver...
sexta-feira, novembro 05, 2004
Final de semana passado, em casa, queria trabalhar. O Monsieur ficou tentando inventar atividades, pra me distrair da meta. Uma das ideias foi levar o computador passear (veja abaixo). Outra foi finalmente me ensinar a andar de scooter. Ele possui uma Vespa antigona, mais velha do que eu, de 72! A poverina está meio que caindo aos pedaços, mas é bonitinha! Fico imaginando a gente andando nela pelas ruas de Roma... Ai, ai, ai.
Fomos pro parque perto de casa, numa ruazinha tranquila, e ele me mostrou como fazer funcionar o bicho. As marchas são complicadíssimas, embreagem dura, freio ruim. Foi um suplício! Não cheguei a engatar a segunda. Foi muito mais complicado do que aprender à dirigir. Fiz algumas barbeiragen, mas estou aprendendo! Acho que vou precisar de muitas aulas, mas um dia estarei de lambreta, arrasando pelas ruas de Paris!
quinta-feira, novembro 04, 2004
Andei correndo por aí, meio estressada.
Ontém fui na bendita (horrenda) Surcouf. Sucumbi. A pressão foi forte demais, e levei meu computo, meu filho, pra fazer um belo de um up-grade. Expliquei o que queria de novo, o que queria deixar do antigo, paguei meu dinheirinho dolorido, e o pobre passou a noite nas mãos daqueles nerds. Tinha dois discos rígidos, um grande (com todo o meu trabalho), e um pequeno, com o sistema. Expliquei que queria deixar o grande, e trocar o pequeno por um bem maior. Quando fui reinstalar o sistema, novinho, no meu disco rígido novinho, percebi que o sistema já existia. Eles deixaram o disco errado. Quase tive um ataque cardíaco, fiquei a noite toda nervosa, e hoje de manhã faltei no trabalho, e fui esperar a loja abrir. Meia hora antes das 10 horas, já tinha um mundarel de nerds, esperando a abertura. Um monte de homen, (aqueles com o olhar cansado, de quem passa seus dias grudado na tela do computador, sem ver a luz do dia), e eu. Empurrei, xinguei a mãe de todos, e fui parar no começo da fila. Fui a primeira à entrar naquele lugar, e fui correndo ver o tio que "cuidou" do meu filho. Ele ficou com cara de bobo, e pediu pra mim trazer o computo. Corri pra casa, arrastei o treco (pesadíssimo) e ele foi procurar o meu disco perdido. Tudo isso com má vontade bem francesa, e ainda dizendo que fui eu que me enganei. Perguntei qual seria a lógica de jogar no lixo o disco maior, mais novo, mais rápido, e ficar com o pequeno, onde tinha o sistema. Perguntei qual seria a lógica de ficar com o disco do sistema, que posso reinstalar, e jogar fora quatro anos de trabalho (que não se reinstala). Mas ele não gostou. Fez a troca, mas não gostou. E ainda tive que ouvir o Monsieur me xingando, dizendo que eu devia ter imaginado que fariam uma merda dessas. Engraçado foi que ele estava do meu lado quando deixei o bicho lá. Viu tudo, mas não disse nada. Depois ficou com aquele papo de "Mas eu sabia! Porque você não bla bla bla bla... Você devia ter bla bla bla bla...".
Homens não servem pra nada!
quarta-feira, outubro 27, 2004
Alguém sabe o que aconteceu com o blog Genérico Incolor? O pobrezinho morava no Mblog, que sumiu do mapa, de um dia pro outro. E agora, onde está?
Ontém fui no meu cabeleireiro de pobre pela segunda vez (na primeira as mocinhas não quiseram saber de mim porque o salão fecharia uma hora depois - UMA HORA!). Dessa vez cheguei várias horas antes do fechamento, e elas me aceitaram. Corto o cabelo sem lavar, nem secar. Dessa maneira pago "só" 19 Euros (70 Reais). Imagine? Isso significa que elas fazem tudo em uns 10 minutos. Mas pelo menos não pago o preço normal de uns 35 à 40 Euros (130 à 150 Reais).
O salão é super glamour. Fica dentro da estação de metro Auber. Ou seja, um lugar escuro, com aquele ar respirado, e o alto falante explicando quais linhas estão de greve. Chiquérrimo!
Tudo na vida tem um valor. Cabeleireiro barato acaba te fazendo um corte barato. Na última vez que fui nesse lugar saí com um cabelinho tipo chanel horrendo. Expliquei que queria um cabelo bem desarrumado, não muito quadrado, sabe, tipo esse aqui? Apontei pra uma foto de uma moça com o cabelo todo repicado.
- Aaaaaaaah, ela respondeu. Esse aí é quadrado.
Pra mim, na minha cabecinha inocente, quadrado é tipo chanel, e repicado é repicado. Mas não. Se aquilo era quadrado pra ela, pois então que me façam um corte quadrado.
Daí vem o diálogo típico dos salões daqui.
- Faz tempo que você não corta o cabelo, né?
- É que sou muito mão de vaca, e não estou à fim de pagar uma fortuna duas vezes por mês. Por isso evito.
- Aaaaahhhhnnnnn.
- Puxa, mas esse corte vai mudar muito o teu cabelo!
- É que normalmente, se eu não quisesse mudar nada, não iria ao cabeleireiro.
- Aaaaahhhhnnnnn.
Depois ela corta meio dedinho de comprimento, e pergunta se tudo bem assim.
- Pode cortar muuuuuuuito, muuuuito mais, tia. Se estou aqui, é porque quero relamente um corte.
- Aaaaahhhhnnnnn.
- Ta vendo a fotinho da moça na revista? Ela está com o cabelo ao nível do queixo. Eu quero assim.
- Ah! Igual essa foto?
- Isso. É pra isso que servem, as fotos do cabeleireiro, não é?
- Aaaaahhhhnnnnn. É sim.
- Então vai fundo, tia!
Me lembro quando era pequena, e tinha cabelos enormes. Toda vez que ia cortá-los era uma briga. Explicava que queria só cortar as pontinhas, e o povo me cortava meio metro de cabelo. Agora quero que eles cortem alguma coisa, e eles querem cortar só as pontinhas. Santo!
terça-feira, outubro 26, 2004
O tempo passa e minhas angústias aparecem como ondas. Vêm e voltam. Mas a certeza fica: preciso de tempo. Tempo pra trabalhar, fazer o que realmente quero. Tempo pra me dedicar aos clientes insuportáveis e poder passar horas à corrigir todos os errinhos que o maníaco encontra, com todo o amor e carinho que ele merece. Quero trabalhar com meus artistas fudidos que não se organisam pra fazer as coisas necessárias pra vender o trabalho deles. Não quero passar meu tempo na frente de um computador do escritório. Quero o meu computo! Quero ter tempo de responder aos muitos e-mails que recebi e que nunca pude retribuir.
Vou conversar com meu novo chefe babaca, e ver o que ele tem a sugerir. Se é que ele vai poder passar 5 minutos de seu preciossíssimo tempo com uma pobre coitada como eu!
quinta-feira, outubro 21, 2004
Cores de Aeroporto
Porque passei várias horas dentro deles de um m?s pra cá. (Clickem na imagem para ver fotinhos).
quarta-feira, outubro 20, 2004
Estou devendo posts e e-mails à todos. Mas o tempo está curto, e a vontade longe. Mas não esqueci de vocês, e prometo voltar logo...
segunda-feira, outubro 18, 2004
Meu chefe, um homen maravilhoso, foi "convidado à se retirar". Hoje é seu último dia. Escolheram um outro, grosso, chato, escandaloso e sem classe, pra tomar seu lugar. Ao mesmo tempo, perdi todo respeito e amizade pelos meus colegas. O povo que trabalha comigo passa seu tempo fofocando atrás das costas dos outros, cada um sobre todos os outros não presentes. Parece um jardim de infância. Quando eu tinha 12 anos tinha mais maturidade e consciência do que eles.
Sei que passar meu tempo reclamando deles também não resolve. Mas santo, que voltade de sair daqui, ir morar numa ilha deserta, sem bobões em volta! Não tenho mais a mínima vontade de vir trabalhar toda manhã. Quero paz.
sexta-feira, outubro 15, 2004
Campanha Política:
quarta-feira, outubro 13, 2004
Os Franceses no Volante.
Tirei carteira de motorista aos 18 anos (mais de 10 anos atrás). Na época morava em São Paulo. Naquele tempo as coisas eram bem mais fáceis: tinha o teste teórico, o teste psicotécnico, e o prático. Eram todos os três ridiculamente fáceis. Tanto é que passei sem ao menos saber dirigir. O prático era uma volta no quarteirão. O importante era lembrar de por o cinto de segurança, ligar o pisca-pisca, e ajustar o espelho. A parte que me deu medo era ter que parar o carro numa "ladeira" (semi-plana) e recomeçar com o freio de mão. Quando foi hora de fazer essa parte, o moço abanou a mão em minha direção e disse que não precisava parar.
A verdade é que aprendi a dirigir na Alemanha. Logo depois de ter tirado a carteira, fui morar em Dusseldorf com meus pais. Minha mãe tinha um lindo Honda Accord, que ela me deixava dirigir. No começo o carro morria em todo farol vermelho, e muitas vezes simplesmente na hora de trocar a marcha. Eu tinha muito talento, naquela época! Como o povo alemão é extremamente bem educado, tinham infinita paciência com minhas manobras. E as regras de transito do país são perfeitas. Quando, por exemplo, tem um afunilamento na estrada, eles colocam uma placa de um zíper na rua. Isso significa que os carros devem passar um por um, dando preferência uma vez pra cada lado. Como os dentinhos de um zíper. O que é maravilhoso num país como aquele é que isso funciona!
Depois, bem depois, voltei pro Brasil, e (com bastante medo) comecei a dirigir por lá. Aprendi, sem muitos problemas, e hoje em dia pego a Marginal Tietê, ou qualquer outra estrada, sem problemas. E dizem que quem dirige no Brasil consegue dirigir em qualquer lugar.
Mas ... na França ... Isso sim é outra história! As ruas são estreitas, tem carros e caminhões estacionados em cada centímetro quadrado, e tudo é uma confusão. A primeira vez que fui entender o que acontecia com carros nesse país, ainda morava na Alemanha. Uma das nossas vizinhas veio morar em Paris. Ela tinha um carrão bonito, branquinho e lustroso. Dirigia pra todos os lados com ele, em todos os cantos da Alemanha. Mudou-se pra França. Alguns (poucos) meses depois, voltou pra Dusseldorf, pra visitar. O carrão estava todo amassado, enferrujado, riscado em todos os lados. Perguntei se ela tinha tido um acidente. Ela explicou que não, claro que não. Disse que morando em Paris a gente aprende a se desprender dos carros. Porque esses não sobrevivem.
Existe uma rotatória, a "Etoile", no topo do Champs Elysées. Quem estiver nela tem a certeza de que nenhuma firma de seguro cobre os carros enquanto estão dentro dela. Ela tem a largura de umas seis faixas, mas não tem nenhuma marca no chão. Ou seja, ninguém tem noção de onde estão, ou pra onde vão. Na Inglaterra as rotatórias funcionam numa lógica simples: quem estã dentro tem a preferência. Ou seja, em geral você entra com a certeza de que vai poder sair do lado que você precisar, sem dificuldade alguma. Na França a preferência é de quem vem da direita. Isso significa que a rotatória vai enchendo, enchendo, e fica cada vez mais difícil de sair. Agora imagine você preso dentro de um negócio desses com a largura de seis faixas invisíveis!
Ainda hoje fico impressionada quando vejo a maneira dos parisiences de estacionar. Entendo que tem falta de estacionamento. Entendo que deve ser muito frustrante dar voltas no quarteirão durante 20 minutos, tentando estacionar o carro. Mas eu nunca teria a corágem de entrar numa mini-vaga, com um mega-carro, e empurrar, empurrar, até encaixar. Encostar no carro da frente ou de trás não parece ser um problema. Mesmo dar uma empurrada até conseguir deslocar o vehículo de meio metro, é aceitável, e mesmo normal. Agora pouco vi um velho que arrancou metado do para-choque do vizinho, entrando de lado numa vaga obviamente pequena demais pro seu carro. Ele entrou com um estrondo, foi empurrando, fazendo aquele barulho de plástico quebrando básico, e se encaixou com uma roda em cima da calçada e outra do lado de fora da faixa, lá no meio da rua. Fiquei olhando, horrorizada, mas o povo nem piscou.
Não sou capaz de pegar um carro nessa cidade. Os que dizem que dirigir no Brasil prepara as pessoas pra qualquer coisa nunca viram os motoristas parisiences em ação!
Estamos com internet ruim no trabalho. Isso significa que às vezes funciona, e outras não. Sem aviso prévio. Eis que escrevo às vezes sim, e outras não...
quarta-feira, outubro 06, 2004
Pois então. Domingo minha mamasita telefonou. Está fazendo um curso de astrologia, e de vez em quando liga pra avisar do estado dos astros. Dessa vez contou que Marte entrou no céu (mapa? área?) das pessas com signo ou ascendente em áries. Ou seja, eu. Marte é o deus da guerra. Isso significa que as pessoas de áries (eu) estão numa fase guerreira. Significa que vamos levar os comentários e o comportamento das (inocentes) pessoas por volta como agressões. E sendo assim, vamso reagir com muita agressividade.
Já disse, e repito: não acredito em baboseiras astrais.
Mas não é que ando muito chata e briguenta esses tempos? E não é que no dia anterior armei o maior barraco com o Monsieur por causa de alguma besteirinha? Não é que adoraria matar todos os colegas no trabalho? Sera que esse Marte está tendo alguma influência? Será que Marte não veio pra ficar? Me parece que ele entrou alí no meu céu e estacionou de vez.
Huuuuuuuuuuuum, sei não.
Cuidado comigo, minha gente!
terça-feira, outubro 05, 2004
Querido leitores, peço desculpas pela ausência. Passei um tempo gripada, e viajei à trabalho. Foram dois dias em Londres, e um em Bruxellas. Parece muito glamour, mas foi simplesmente muita correria, muito peso carregado no ombro, e nem um minutinho de folga pra visitar as cidades. Quinta vou-me embora pra Istanbul, uma das cidade mais lindas que conheço. Infelizmente uma cidade que anda recebendo várias bombas e outros presentinhos terroristas. Veremos...
terça-feira, setembro 28, 2004
Estou em casa, fudidamente resfriada. Estou tomando litros de chazinho, e alguns dentes de alho. Tenho bafo de cachorro. E vontade de nunca mais sair de casa...
segunda-feira, setembro 27, 2004
Que hacemos aqui?
Foi o que minha amiga Mexicana disse quando saimos do Diarios de Motocicleta. Não sou capaz de respodê-la. Chorei rios de saudades durante esse filme. Walter Salles é um gênio.
Pois é. O mundo é podre, as pessoas são corrompidas e fazem de tudo pra passar por cima dos outros, cada um só se interessa pelo próprio umbigo. Eu é que sou ingênua e esqueço dessas coisas. Sou ingênua ao ponto de ficar chocada e chateada quando me reparo com a realidade. Burra.
Mas fico acabada quando vejo que dentro do meu próprio trabalho, dentro da minha vidinha, essas coisas também acontecem. Tenho nojo disso. Nojo das mentiras, das coisas escondidas, das trapaças. Porque tento não ser assim, mas os outros são. O mundo é assim. Take it or leave it.
Cair na realidade é desagradavel, mas necessário. Caí.
sexta-feira, setembro 24, 2004
Uma questão ética:
Se você descobre que teu colega está declarando os dias que tirou de férias como dias doente (ou seja, está sendo pago), e depois descobre que está viajando pelo custo da empresa, e que quando trabalha não faz porra nenhuma, o que você faz?
a) Pergunta pro chefe?
b) Fecha o bico, porque não é da sua conta?
c) Reclama e faz um escândalo no escritório?
d) Nenhuma das alternativas
e) Outra ___________________
Brasil e literatura
O que aconteceu com o meu Brasil? Saí desse país maravilhoso dez anos atrás, quando terminei a escola. Naquela época as coisas eram muito diferentes. Pra começar todo jóvem cool que se prestava era contra música brasileira. Bom mesmo era ouvir metal importado. Ou um pop inglês simpático. MPB nem pensar. E a literatura? Ler livros era cafona. Escrever então, fora de cogitação. Os jóvens cools sentavam no fundão da sala, reclamavam do professor, e passavam bilhetinhos. Quem queria tirar notas razoáveis (eu) tinha que fazê-lo discretamente. Senão era taxado de CDF e perdia toda a moral.
Hoje em dia, pelo que vejo, os jóvens gostam e respeitam a cultura brasileira. MPB é bom, e podem escutá-la sem sentirem vergonha. Literatura é legal. O povo não só lê, como escreve! E mesmo assim são cool. Pessoas absurdamente novas, como o Marcos, por exemplo, (e tantos outros blogueiros adolescentes) escrevem fudidamente bem. Na minha época isso era impensável.
(Tudo bem, o Marcos já cresceu, foi morar em Londres sozinho, e tudo mais. Mas pra mim continua me deixando com complexo de velha. Quando eu tinha a idade deles, nunca pensei em correspoder com pessoas 10 anos mais velhas).
E agora, como eles fazem? Eles sentam no fundão e lêem Paul Auster? Eles fingem não ouvir o professor mas conseguem passar no vestibular? Como? Não entendo!
quinta-feira, setembro 23, 2004
Ó hormônios...
As mulheres sofrem. Não adianta. Sexo frágil uma pinóia. Os homens não seriam capazes de aguentar um minuto dos nossos ciclos.
Lí um artigo sobre exercícios e o nosso mês. É o seguinte: Durante os primeiros dez dias do nosso ciclo menstrual (logo depois da menstruação), estamos bem. Podemos correr, fazer exercícios aeróbicos e tudo mais. A vida é uma beleza. Durante as próximas duas semanas, o ânimo já baixa bastante. Melhor fazer coisas levinhas, como correr um tiquinho, e alongamentos. E daí chega a TPM, e logo depois, a menstruação. Durante esse tempo todo, deixa quieto, fica tranquila. No máximo dê uma caminhadinha curta, e volte pra casa. Não adianta, que a energia não estará presente em lugar nenhum.
Ou seja, a gente deprime e come choclates durante a menstruação. Fica gorda e cheia de espinhas. E principalmente, muito infeliz e chata. Depois tem que cavalar durante os próximos dez dias pra tentar perder os muitos kilos que acumulamos nesses dias. Mas cavalar mesmo, porque depois da ovulação, deixa quieto, pode esquecer a energia de se mexer um pouco. Alongamento. Olha, acho importantíssimo fazer alongamentos. Mas preciso de um pouco mais. Alongamentos não afinam a cintura, nem endurecem os músculos.
Mermão, isso ninguém aguenta! TPM, chocolates, e litros e litros de chazinho anti-dor-de-cabeça. Porque sou raínha das dores de cabeça. Meu guru* mandou tomar chazinho "banchá" pra evitar dores de cabeça. Mas esse chazinho também tem propriedades diuréticas. Já fui fazer xixi umas 256897124722 vezes hoje. O pessoal deve estar achando que tenho um problem intestinal sério.
Mas fazer o quê? Sou mulher. A vida é assim mesmo!
* Meu guru é um japonês-chinês em São Paulo que faz Chiatsu. Quem quiser criticar que critiquem, mas me expliquem como ele apertou uns pontinhos no meu corpo e sabia de TUDO. Literalmente TUDO. Sobre meus sentimentos, amores, minha relação com minha mãe, meu pai, sobre a minha saúde (inclusive exatamente o que estava acontecendo nos meus órgãos internos), sobre o que como, meus excessos e minhas carências. Ele é meu guru, sim!
A esquina da minha rua...
(O post de óntem não foi uma busca de elogios, mas realmente porque acredito que posso fazer melhor. Por isso vou provar à vocês, falando de abobrinhas banais da minha vida. Hihihihi!)
Moro num bairro super tranquilo. Fica pertinho do parque, é cheio de famílias e velhinhos, e principalmente, muitas farmácias (para os velhinhos). Não tem bares, não tem nenhuma loja maneira, não tem atração turística. Residencial 100%.
O engraçado é que bem na esquina, na frente da minha janela, existe algum karma muito dramámatico. Sempre tem acontecimentos bizarros. Os carros e motos passam cantando pneu, no meio da noite. Sempre. Não sei pra onde vão, mas vão com pressa.
Teve um carro, estacionado, que pegou fogo, sozinho. Fez PUUUUM, e saíram chamas de dentro. Vai entender. Os bombeiros vieram, tiveram que estourar tudo, queimou vários carros em volta. Ninguém nunca descobriu o que aconteceu.
Outra vez tinha um maluco que pirou dentro de um carro. Saiu do meio do cruzamento, bateu em TODAS as esquinas e todos os carros estacionados, tentando manobrar em tempo récorde. Subiu a rua de ré como um louco, e foi bater num carro de polícia que estava na outra esquina, por alguma razão inexplicável.
Tem uma mendiga que mora na frente do prédio vizinho, que preparou sua cazinha de papel, e fala sozinha. Normalemente, mais ou menos na hora exata em que resolvo dormir, ela começa a gritar. E gritar muito. Durante horas.
Algumas semanas atrás um prédio bem na frente do meu pegou fogo. Vieram quatro ou cinco caminhões de bombeiros, vários carros de polícia, e muita gente ver os acontecimentos. De repente, de um momento ao outro, sumiram todos.
E o resto do tempo, meu bairro é tranquilo e calmo. Dá pra entender?
quarta-feira, setembro 22, 2004
Querido leitor,
Me preocupo com você, fiel leitor amigo, que vira e mexe volta aqui, e desde tempos se depara com nada de muito interessante. Sei. Estou passando por um período de seca de inspiração. Sinto. Não consigo inventar nada de novo ou interessante pra contar.
O problema é o seguinte: a gente escreve mesmo, escreve assim, aqueles textos que saem direto da veia, quando estamos sofrendo. Dor é a melhor inspiração. Vejam os grandes escritores, todos meio torturados. Vejam os textos maravilhosos que saem das pessoas que sofrem de amores não correspondidos. Que coisa maravilhosa!
Mas eu agora estou tranquila. Meu amor não correspondido sumiu memso. Os que ficaram por aqui são bonzinhos, morninhos. A vida vai tranquila, meio cheia de tédio. E fora isso, o que posso contar? Nem os franceses estão me aprontando nada, pra mim poder contar as aventuras de uma estrangeira perdida nessa cidade maravilhosa.
Sinto. Paciência. Vou esperar alguma desgraça me acontecer, daí sim, posso escrever coisas maravilhosas. Por enquanto vocês vão ter que aguentar essa vidinha sem graça que conto por aqui.
Saudações. Até mais!
Semana que vem começa meu curso de Flash! Yeh! Vou virar uma webmastah high-tec muito cool... Depois ninguém me aguenta...
E o Bush, minha gente?
Estou aqui, longe de tudo e de todas, sem pensar em eleições. Mas na verdade o Brasil está passando por isso, e pior, os EUA. Minha coleguinha, de Arkansas, está nervosa e só fala nisso o dia todo. Como é que pode ser que aquele homen está com sérios riscos de ser eleito mais uma vez? Não consigo ver a lógica das milhares de pessoas que querem votar por ele. Mas de alguma maneira, ele consegue. Kofi Anan recentemente declarou que sim, a guerra no Irak é ilegal. O mundo todo já está careca de saber disso tudo, mas as Nações Unidas repetem mais uma vez.
E eu digo:
terça-feira, setembro 21, 2004
Esse final de semana fui ver uma das minhas clientes de site. Já falei dela por aqui antes. Estamos tentando finalmente terminar o trabalho todo, e colocar a versão final do site no ar. Mas demora. Ontém percebi que na verdade não quero nunca terminar esse site. Porque terminando-o, não terei mais razões pra passar a tarde na frente do computador dela, ouvindo sua conversa, ouvindo a gritaria de seus filhos, brincando com seu gato. E essas poucas horas que passo na presença dela são uma aula, uma lição de vida. São como encher o tanque do espírito. Gasolina pra vida. Ela consegue inspirar, dar força, paixão para as vidas que tocam a dela. Não somente pelo seu trabalho (fotografia) maravilhoso, mas pela sua personalidade.
Dessa vez ela pediu pra mim trazer minha irmã, e fomos tomar uma cerveja. Minha irmã, antiga aluna dela, anda se metendo em situações idiotas, com seus amigos e amores. A moça sacou na hora o que estava acontecendo, e resolveu se meter. Falou um monte, sobre a vida, o amor, o que os homens devem fazer para as mulheres, e sobre simplesmente ser mulher. Esqueço que sou mulher. Ser mulher é diferente de ser gente.
Cheguei em casa com a cabeça girando, mil pensamentos voando. E o site dela, que avança pouquinho a pouquinho.
Queria viver somente de arte...
segunda-feira, setembro 20, 2004
Hoje tenho muitas coisas pra dizer, mas as palavras não se encaixam juntas. Tenho que escolher uma foto daqui, como parte do pagamento do site. Mas qual? Impossível tomar uma decisão...
O novo site do Araquem está no ar. Maravilhoso. Aliás, dia 22 tem o lançamento do livro em São Paulo. Pra quem pode...
quinta-feira, setembro 16, 2004
Da série posts cretinos (depois não digam que não avisei)
Então pelo jeito o que da ibope por aqui é falar sobre a higiêne dos meus conterrâneos (vide os comentários). Pois é. Acho feio e preconceituoso fazer julgamentos sobre um povo em geral. Conheço muitos franceses que gostam de tomar banho, que são limpinhos e chegados a escovar os dentes. Porém, minha experiência pessoal com a higiene do europeu começou cedo. Quando era criança e morava na Inglaterra, tivemos uma amiguinha que passou uns tempos em casa enquanto os pais viajavam. A Hannah era uma loirinha simpática, que morou no meu quarto durante uma semana. Todo dia jantávamos juntas, e depois minha mãe mandava minha irmã tomar banho, e logo em seguida me mandava atrás. Depois perguntava á Hannah se queria ir também. Ela sorria e recusava. Mamãe não queria obrigar a filha de outra pessoa a fazer alguma coisa contra sua vontade. Afinal de contas, passávamos o dia juntas, fazíamos tudo ao mesmo tempo. Achava que Hannah resolveria me seguir um dia desses. Conclusão: a menina passou uma semana em casa, sem tomar banho uma única vez. No final da semana seus belos cabelos loiros pingavam ranço, mas ela continuou sem banho.
Alguns anos depois, já adolescentes, a história se repetia. Outra menina, mas os mesmos resultados. Acontece que dessa vez já éramos "mocinhas". Sem comentários...
Na França não tive experiências tão violentas quanto essas, mas as coisas pequenas de todos os dias são assustadoras:
Pegando o metro cedinho de manha, as pessoas (muitas pessoas) tem as unhas pretas. Será que fizeram um pouco de jardinagem de manha antes do trabalho, ou será que não tomaram banho? O bafo geral é uma boa indicação de que muitos não tem o gostinho fresco de pasta de dentes na boca. O que acontece muito também é que as pessoas até tomam banhos, mas colocam a mesma camisa fedorenta de muitos dias atrás, o que resulta em um outro tipo de futum completamente diferente.
O que não falta, infelizmente, são pessoas (nem sempre homens) que cospem na rua, e chegam à catar caquinhas do nariz, em público, sem nenhum pudor.
Mas isso são alguns, de vez em quando. Meus amigos e meu namorado são todos muito limpinhos e cheirosos, gostam de banhos e desodorantes (com validade de 12 horas, porque não precisam dos de 48!!!).
quarta-feira, setembro 15, 2004
Meu grande amor - meu computador...
Não gosto de admitir isso, mas não posso viver sem meu computador. Está velho, comprei/ganhei em 2000. Meu pai pagou uma parte dele, como presente de aniversário. Nesse anos trabalhei muito com ele, e aprendi muito. Mas as minhas 40 gigas estão abarrotadas de coisinhas, o meu Windows 2000 está cansado da vida. Os outros programas estão cada vez mais lentos, com cada vez mais problemas.
Esses dias mencionei o problema a amigos, que, sendo nerds, imediatamente tomaram providências. Me mandaram propagandas e preços de novos computadores, insentivando ao máximo. Me arrastaram ao Surcouf, loja horrenda enorme com milhões de computadores e materias de nerd. Tentei fugir, mas me obrigaram à conversar com o moço, e explicar meu caso. Não queria jogar o meu amigo computo no lixo, mas eles podem fazer up-grades e revitalizar o velho. Quando mostrei a minha configuração eles explicaram que vou ter que mudar quase tudo. Azar. O preço me parece enorme, mas todos insistiram que é normal.
E as perguntas: será que vale a pena? Será que não seria melhor comprar um laptop? Será que não consigo sobreviver com o meu velho amigo alguns anos ainda? Ó duvida cruel...
O problema é que eu tenho ansiedade aguda toda vez que tenho que gastar dinheiro!
segunda-feira, setembro 13, 2004
As novidades do final de semana...
Domingo de manha o chico que mora comigo foi dar uma voltinha na rua. Voltou pra casa dizendo que tinha acontecido uma coisa muito louca com ele. Contou que tinha comprado uma máquina fotográfica digital. Um carro vermelho passou, e os dois senhores dentro chamaram ele, oferecendo a camara, de procedência duvidosa. Ele conseguiu baixar o preço proposto de 700 a 200 Euros. Ficou muito feliz, foi retirar a grana. Os senhores mostraram a mercadoria, tiraram algumas fotos, mostraram as outras que estávam na memória, inclusive fotos de seus filhos, etc. Colocaram ela numa latinha, e deram pra ele, que passou a grana. Pedi pra ver a tal máquina. Ele foi abrir a latinha, que estava emperrada. Ficou um tempão puxando, e finalmente conseguiu desgrudar a tampa. A lata estava cheia de farinha.
Ele não entende, até agora, o que aconteceu, nem a que momento os senhores trocaram as latinhas. Foi tonto, e sabe. E reconheceu que quando o desejo de algo que a gente não tem condições de comprar é grande demais, só pode dar merda.
Que raiva que me deu, de ver que tem gente tentando abusar dos outros a esse ponto, e que a gente insiste em acreditar na bondade e honestidade das pessoas.
quinta-feira, setembro 09, 2004
Minha vida está confusa. Calma, mas confusa. Não sei mais o que quero, o que devo, o que anseio. No trabalho, o povo está muito chato. Meu chefe, único ser sem rancores e má vontade, vai embora. Vou ganhar um novo chefe, se é que vou ficar por aqui. Os colegas expiram mau humor e raiva, sem entender porque. Mudei de mesa, estou no outro canto da nossa sala. Tenho uma vista diferente, e menos gente olhando pro meu monitor, tentando saber o que faço.
Resolvi algumas questões sobre relacionamentos. Acho que tem gente que se entende sempre, sem precisar de palavras. Essas vivem as mudanças com tranquilidade. Outras só vivem em torno de seus próprios umbigos, e isso não tenho o poder de mudar. Que continuem então cuidando desses umbigos. Não vai ser eu que vou ajudá-los. Esses dias andei triste, tentando modificar o mundo. Mas não posso. E o medo da solidão nã é razão válida para se aguentar egos alheios.
E às vezes o passado volta. E sinto uma melancolia sobre coisas que me deixavam desesperada, coisas longe de mim que não podia acessar. Vejo pessoas distantes por todos os lados, frutos da minha imaginação. Mas não posso mundar o passado, e não posso dar forças aos fracos. As pessoas vivem as vidas que eles mesmo escolhem. Não posso tomar decisões pelos outros.
Não entendeu nada? Não se preocupe, eu também não.
terça-feira, setembro 07, 2004
Sou uma mulher corrompida. Bebo cafés caríssimos no Columbus. Sei que são industriais, e anti-francês (que toman café nos cafés tradicionais, nunca numa instituição importada como essa). Mas merrrrmão, como é bom. Ainda por cima servido por um lindo menino, sorridente e bem-humorado, e que toma banho! No wonder que sou corrompida...
segunda-feira, setembro 06, 2004
Irmãos
Estamos trabalhando com duas irmãs na faculdade. E fiquei impressionada. Uma delas, a mais velha, é a querida do pai. Mais bonita, mais inteligente, mais responsável. Organisou tudo pra ingressar na faculdade, e chegou na hora certa, preparada. A outra, mais nova, resolveu se inscrever bem mais tarde. Desorganisada, não entendeu bem o procedimento, e acabou se atrasando com tudo. Se confundiu na hora de se apresentar, acabou deixando documentos valiosos no lugar errado, e perdeu o lugar na fila. O pai ligou, logo avisando que essa segunda filha não daria em nada. Disse que só se preocupa com shopping, e foi burra em deixar os documentos todos conosco. Tivemos que conversar muito com ele pra conseguir autorização de inscrevê-la.
E me pergunto, como um homen adulto pode fazer isso com suas filhas? Elas já sabem, novinhas e antes de entrar na faculdade, que uma vai dar certo e a outra não. Foi martelado nas cabeças de ambas que a diferencça entre elas é enorme. Claro que a filha irresponsável e burra vai continuar assim. Qual é o incentivo em tentar melhorar, se o pai já se decidiu por elas?
E não foi preciso um Phd em Psicologia pra mim deduzir isso.
O desenvolvimento e crescimento de uma criança depende enormement na visão dos pais. Cada um precisa receber amor, carinho, respeito, mas principalmente a fé dos pais, que acreditam no seu sucesso pessoal. Isto é lógico.
Tudo bem, não sou mãe de ninguém, não posso dar lição de moral em pessoas que criam seres humanos. Afinal de contas, só criei dois gatos, e olhe lá. Mas como gostaria de ter o poder para mudar a cabeça de pais ignorantes como esse.
sexta-feira, setembro 03, 2004
Detalhes do cotidiano banal (por falta de melhores histórias pra contar)...
Ontém cheguei em casa bestamente alegre. Um amigo que estava por lá perguntou o porquê, mas não soube responder.
Recebi um colchão novo, que eu não precisava, mas amigos e familiares acham que o meu antigo futon maravilhoso estava velho e duro demais. O colchão novo é maravilhoso, mas o velho era muito bom pra mim também. Dizem que fazia mal pras minhas costas quebradas. Nesse caso, mesmo sem sentir a diferença pessoalmente, fico feliz com o novo.
Fui trocar um anel que ganhei de aniversário, duma loja maravilhosa, cheia de coisas desnecessárias. O novo anel é lindo, mesmo sendo um pedaço de metal que realmente não preciso.
Fui encontrar com a belíssima Carolina, que me deu uma pequena pintura, de presente, pela ajuda com seu site. A pintura, bem característica de seu estilo, é linda, e foi completamente inesperada. Amei.
Hoje à noite pego um trêm pro sul, mais uma vez. Vou ver um pouco de sol e calor, antes da chegada do inverno, que tanto me desespera. Vai ser a última vez que visto um bikini esse ano, me parece. Fiquei feliz pela presença de uma mocinha linda, que, espero, vai mudar um pouco a experiência de sempre daqueles lados.
Tudo isso é muito bom, mas continuo achando que não justificam a minha euforia boba. Mas não vou reclamar...
quarta-feira, setembro 01, 2004
Voltei á correr no parque ontém, depois de alguns meses de falta total de qualquer tipo de exercício físico. Não corri muito, porque não tinha lá muito fôlego. Dei uma voltinha básica no lago. Faz bem, mesmo sendo pouca coisa. Meus pobres músculos não sentiram muito, mas botei um montão de oxigênio no fundão do pulmão. E transpirei. E encontrei meus coleguinhas de corrida. Algum dia, não sei por quê, resolvi conversar com um moço que corria por lá. Sou patética. Sou capaz de dar qualquer informação que me perguntarem sobre a minha pessoa: nome, endereço, telefone, tamanho do calçado, do sutiã, comida preferida, e onde comprei meu colchão. Depois, claro, me arrependo amargamente. Vou correr no parque, (o que jáo não é uma atividade muito glamour) e quando estou toda cor-de-rosa, suada e esbaforida, vem um "amiguinho" me comprimentar. Estava se esticando, com o pé lá em cima da cerca.
- Salut, Bruna!
(Grito muito alto, e nem um pouco discreto).
Dei um sorrizinho, e passei reto. Mas ele veio atrás.
- Posso correr com você?
Deusmelivreeguarde! Sou uma coisa muito feia correndo. E a última coisa que quero nesses moments é compania. Muito menos de um ilustre desconhecido esquisito. Foi o que expliquei, gentilmente, ao "amigo".
- E a capoeira, vai bem????
- Capoeira?!?!?!!!!
Então eu dei mais informaçõo do que eu pensava. Dei um sorrizinho amarelo, e disse que já estava indo embora. Daí sim corri. Bastante. Até chegar em casa...
Amor incondicional é amor materno. Pelo menos, é isso que dizem por aí. Minha mãe tem todo o amor do mundo, isso com certeza, mas ela tem o dever de ser mãe: educar, ensinar (mesmo as coisas que eu não queria aprender), controlar, limitar, ensinar os valores morais que todos nós temos. Muitas vezes se irritava (e se irrita) com os meus defeitos. Critica, pra melhorar quem sou. Me guia, com seu jeito delicado, a ter os gostos que ela tem. Afinal de contas, é mãe.
Amor incondicional mesmo, total e absoluto, só existe um: o da minha avó. Vovó nunca criticou, nunca limitou, nunca reclamou. Tudo o que eu fazia era lindo. Sempre. Passei a minha infância indo na casa da vovó pra sentar o dia todo no sofa, comer doces e assistir desenhos animados na TV. Não tinha TV em casa, naquela época. Meus pais tinham princípios. Mas vovó acabava com eles. Me dava um banho de televisão com açúcar refinado. A geladeira dela era uma caverna do Ali Baba. Doces, sorvete, refrigerantes, bolos, chocolates. Do lado da porta ela tinha uma caixinha mágica, cheia de balas. As balas nunca terminávam.
Vovó nunca se zangou comigo, nunca se chateou, nunca levantou a voz. Na casa dela a liberdade era total. Ela me pegava no colo, me abraçava, beijava. Me fazia carinhos.
A única coisa que me pedia era um casamento na igreja. Porque esperou a vida toda, mas nenhum de seus filhos se casaram na igreja. Sou a neta mais velha. Ela não gostou quando ficou sabendo que morava com um moço, sendo solteira. Isso não era bom. Mas ela nunca disse isso pra mim. Deu voltas, manipulou e empurrou todos, mas nunca me disse nada.
Contava histórias sobre os anjinhos no céu. Horas e horas passamos, deitadas na cama, imaginando o paraíso. Ela me ensinou a fazer três desejos cada vez que entrava numa igreja. Mas um deles era obrigatório: que titia se casasse. Os outros dois eram de minha autoria.
Quando fui morar na Inglaterra, pequenininha, aprendi a rezar o Pai Nosso na escola, em inglês. Ela me levou pra sua igreja, e me colocou em pé, do lado do padre, pra rezar, na frente de todos. Lembro como se fosse ontém. Eu vestia uma blusinha e sainha verdes. E não tive medo. Sabia que vovó nunca teria me colocado lá se não fosse uma coisa boa. Rezei, no microfone, sem saber muito bem o que estava acontecendo, mas tendo a certeza que ela cuidaria de mim. E que tinha todo o orgulho do que eu fazia.
Tantas memórias me vem a cabeça quando lembro dela. Me ajudou a ser mulher. Foi com ela que aprendi que moças são vaidosas, pintam os cabelos, fazem as unhas, passam cremes. Ela me ensinou que mulheres não deviam ser megrelas. Ela pegava no meu braço pra ver, cada dia, se ele tinha engrossado, se eu tinha comido direito. Queria me comprar uma calcinha com bundinha, porque era muito magra na adolescência, e um pouquinho de espuma embaixo da calça não faria mal a ninguém. Mas mesmo com esses defeitos todos, meu corpo era bonito, perfeito, pra ela. Porque eu era sua princesa.
Agora está velhinha. Precisa de ajuda pra andar, pra comer. Mas quando fui vê-la pela última vez, ela sentou no terracinho comigo, e tomamos suco juntas, e conversarmos no solzinho. Ela queria fazer as unhas, e uma depilação. E perguntou sobre o que ando fazendo, e sobre minha irmã. Queria saber sobre a nossa vida em Paris.
Mas agora ela está morrendo. Já chegou na hora. Ela viveu muito, e bem. E tinha uma quantidade infinita de amor pra dar. Ela acredita tanto no seu paraíso que vai pra lá, encontrar meu avô, que a espera ha anos. Tenho certeza.
terça-feira, agosto 31, 2004
Meu room-meite novo chegou ontém. Muito fofo. Ainda está com aquele ar de visita, pergunta se pode usar o banheiro de manha, se pode pegar um pouco de pó de café emprestado, etc. Acho que daqui à pouco vai entender que mora numa casa de loucos, e que pode ficar à vontade. É um moço com princípios, artista, respeitador da natureza. Fala bastante, sobre tudo que existe nesse planeta. E tem uma namorada na Suécia, uma mocinha muito trabalhadora. Bom menino. Gostei.
segunda-feira, agosto 30, 2004
Food for Thought II
Lembrei da Maria (post abaixo) porque vi uma moça linda hoje, no metro. Maria era bem feinha. E casada. E ela sempre dizia que adorava mulheres bonitas. Coisa estranha. Mulheres que gostam de outras normalmente gostam por razões bem espercíficas. Um dia alguém perguntou se ela não sentia ciumes dessas moças. Ela explicou que prefere ver uma coisa bonita na frente dela, do que feia. Como poderia sentir ciumes? Se ela vai ter a obrigação de olhar para as pessoas em volta dela, todos os dias, melhor ter que olhar para uma Elle McPherson que uma feiosa. Mesmo que Elle estiver no escritório do marido dela? Claro, ela respondeu. Gostamos de beleza em fotografias, em plantas, natureza, flores, tudo. E o que existe de mais interessante no mundo do que uma pessoa bonita?
Food for Thought
Era uma vez uma menina chamada Maria*. Maria estudava comigo na faculdade. Era bastante inteligente, e com pais ricos, que mandavam o tipo de dinheiro que me faltava. Ela tinha um rostinho muito feinho, e se vestia de uma maneira bastante simples. Um belo dia, na época das provas, ela desapareceu. Voltou so´ no semestre seguinte, mas bastante mudada. Vestia as mesmas roupas, mas com uns sapatos de salto alto, finos, vermelhos e escandalosos. Perguntamos porque ela tinha desaparecido. Ela contou que se casou. Assim, de repente.
Muito tempo depois, quando fiquei conhecendo a peça melhor, fiu entender tudo aquilo. Na verdade ela namorava com um moço. Os pais dos dois eram muito conservadores, e não queriam saber deles andando juntos. Então casaram-se. Não porque acreditavam em casamento, ou tinham vontade de assinar um contrato, mas porque queriam morar juntos em paz, sem a desaprovação das famílias.
Achei aquilo tudo meio estranho, mas sem conhecer as famílias, não queria fazer nenhum julgamento.
Mais tarde, numa conversa com ela, fiquei ainda mais surpresa sobre a atitude deles. As famílias são muçulmanas. Perguntei o que achava da religião. Ela disse que não acreditava em religião. Perguntei se ela era espiritual. Ela respondeu que não acredita em nada disso. Nem em Deus, nem em alguma força do além, nem nada. Ela acredita em biologia. Somente biologia.
- Como assim? perguntei.
Ela explicou que tudo se explica na biologia. A vida, a morte, a cor púrpura, as flores e todo o resto. A força que faz com que os seres vivos cresçam, com que as borboletas voem. Tudo o que existe, tudo o que muita gente considera um milagre, uma creação divina, tudo. A biologia, que ainda conhecemos muito mal, tem todas as respostas.
Conversamos muito, aprendi muito. Mas não sou capaz de dizer se ela tem razão. Questão muito interessante. E não consigo resolver no que creio.
* On nomes dos personagens foram mudados, para proteger os inocentes.
Trabalhei o final de semana todo. Afffff. A gente não da valor ao tempo livre até perdê-lo. Tive que colaborar com, e sorrir aos colegas chatos. O povo, quando não está contente fica com cara de quem chupou limão e não gostou. Tento, tento muito, ficar de bem com a vida, e não deixar essa amargura me influenciar.
Amargura não gosto. Acho que ser amargo não ajuda em nada, e faz mal. Amargura não é como a tristeza. Uma vez, quando estava apaixonada por um menino, ele me disse que tristeza é uma coisa natural. A gente passa a vida tentando ser sempre feliz. Quando acontece algo, ou simplesmente estamos menos animados com a vida, todo mundo acha um crime. Tentamos voltar ao estado feliz o mais rapido possível. Mas, ele disse, a tristeza também pode ser curtida. Savoreada. Faz parte da vida, e pode ser aceita numa boa. Ninguém pode ficar bem o tempo todo.
Mas amargura, acho ruim. E o povinho anda muito amargo por aqui. Rancuras antigas, e má vontade. E tudo isso é contagioso, para quem trabalha num pequeno ambiente fechado. Tendo consciencia disso, tento não me influenciar.
quinta-feira, agosto 26, 2004
Estou ficando velha. Daqui a pouco os 30 estão aí. Posso repetir que tenho um corpinho de 23 (isso eu não inventei. A fisioterapeuta que disse - e eu acreditei), mas os sinais dos 30 não me deixam em paz.
Quando era adolescente chegava a dormir durante 16 horas, direto. Se não tinha alguém pra me acordar, eu simplesmente não acordava. Dormia em qualquer canto, e bem. Acordava sem dores nas costas, no pescoço, etc.
Hoje em dia durmo 8 horas. E basta. Depois acordo. Mesmo nas férias, finais de semana e feriados. Se eu deitar cedo posso acordar antes das 8h! E de livre, espontanea vontade. Isso é incrível. Pra mim, 8 horas sempre foi considerado deshumano.
Outro dia acordei, me espreguicei, e:
- Como dormi bem!
Antigamente, durante minha "juventude", não tinha isso de dormir "bem". Porque sempre que dormia, dormia "bem".
Hoje em dia se não acordar dez vezes durante a noite, se não me levantar pra beber água, ir ao banheiro, assoar o nariz, buscar um cobertor, tirar o cobertor, fechar a janela, etc. fico achando que dormi "bem".
Pois é. O corpinho de 23 está realmente indo rumo aos 30!
Uma biosfera no Printemps.
Printemps é uma loja de departamento parisience, grandona, bonita e cara. Vende mais para turistas do que parisiences espertos, que conhecem outros lugares onde podem encontrar os mesmos produtos. Mas a Printemps tem uma lojinha "design" dentro do Centro Pompidou. Cada vez que vou lá dou uma passada. Acho que nunca comprei nada, mas vale a pena pelas novidades e inutilidades que vendem, sempre à preços exorbitantes. Dessa ultima vez que passei, conheci, por exemplos, sacolas feitas de lona de caminhão. Sabe aqueles caminhõoes fedidos e encardidos da Marginal Pinheiros? Então. Eles tiram a lona que cobre toda a mercadoria, recortam, e fazem sacolas e bolsas. Sacolas e bolsas caríssimas. Mas ha gosto pra tudo, e essas coisas não se discute.
O que encontrei dessa vez, porém, achei incrível. Tinha uma esfera enorme, tranparente, em cima de uma mesinha. Dentro dela tinha uma areinha, e um tipo de coral. Chegando mais perto, pude ver que dentro disso nadavam muitos mini camarõezinhos. A esfera, por alguma razão, atraia todo mundo. Tinha um textinho explicativo do lado. Aquele trambolho era uma biosfera. Era fechado hermeticamente. Nada entrava, nada saía. O que vivia dentro dela era auto-suficiente. A luz faz crescer alguinhas, que alimentam os camarões, que de alguma maneira fazem o coral também sobreviver. Tudo sozinho, sem ajuda exterior. Fui perguntar o que era aquilo pra vendedora. Ela disse que custava 5,000 Euros. Era uma experiência que a Nasa mandou pro espaço, que sobreviveu, e voltou, pra agradar os clientes da Printemps. Ela me indicou, do outro lado da loja, outras mini biosferinhas, mais em conta (entre 75 e 150 Euros), que não tinham passeado, pessoalmente, pelo espaço. Eram lindas. Por alguma razão davam uma vontade irresistível de tocar, de levar pra casa.
Do lado das biosferas domésticas, tinha também uma caixinha com um gel azul. Esse tal de gel foi desenvolvido porque o povo quis levar formigas pro espaço. O problema que tiveram foi que com a pressão, a terra das formigas virava pó, o que dificultava a sobrevivências dos bichinhos. Esse tal de gel, pressão proof, conté alimentos e tudo o que as formigas precisam. Elas podem morar dentro dele, cavar tuúneis, respirar, comer, reproduzir e tudo mais. O gel estava à venda. O povo podia comprar, por num aquario em casa, caçar formiguinhas, e ter a própria produção.
Estão fazendo estes estudos pra poderem, um dia, desenvolver uma biosfera e por nós, pobres humanos, no espaço. Mas veja como são bonitinhos:
E depois eu fico com consciência pesada por comprar coisas não necessárias, como os meus dois pares de sapatos...
quarta-feira, agosto 25, 2004
Sucesso!
Ontém, depois do trabalho, consegui o inconseguível!!!! Comprei sapatos. E não foi nem um, mas DOIS pares!! Isso é inédito.
Nessa cidade, capital da moda mundial, a compra de sapatos funciona de uma maneira símples:
1) Você gosta de sapatos bico fino, do tipo mata-barata-no-canto. Você tem os pés que suportam esse formato impossível, ou é rica e possui um carro com motorista, podendo vestir até sapatilhas de cristal, sem ter que andar na vida.
2) Você é rica (com ou sem motorista) e tem disposição para gastar toda a fortuna da família nas lojas de sapato.
3) Você tem gosto de porco, e gosta de vestir sapatos cor-de-laranja e roxos, com lantejolas.
4) Você tem 180 anos, e precisa de sapatos de velha horrendos.
5) Você é rica e estudante, podendo vestir tênis maravilhosos todos os dias da semana.
6) Você é mendiga, e anda do melhor jeito possível - descalça.
7) Todas as alternativas
8) Nenhuma das alternativas.
Eu, pessoalmente, sou da alternativa 8. Por isso, minha vida se resume em comprar sapatos quando estou no Brasil, Inglaterra ou outro país longe daqui. Ou em não comprar sapatos.
Tentei vários lugares esse final de semana. Até me dispus a pagar uma fortuna e comprar um Camper amado. Mas não posso trabalhar de sapato verde com bolinhas, o que limita um pouco a escolha. Minha amiga sugeriu MiuMiu. Mostrou seu pézinho delicado, com uma bela sandála preta. Perguntei se essas coisas não custariam uns 300 Euros, mas ela me garantiu que nã era o caso. Saí do trabalho, e fui fazer uma maratona até a MiuMiu. Tinham muitos tipos barata-no-canto, e sapatos tipo 1940, muitas cores e lantejolas. (Preço médio: 290 Euros). Me poupe.
Andei mais um pouco, e entrei numa loja fuleira, perto de lá. O serviço funcionava assim: a vendedora ficava sentadinha atrás de um balcão, lendo revistas. Eu pegava o sapato que me interessava, e mostrava pra ela. A moça torcia o nariz, dizendo que não tinham essa no meu tamanho (sem perguntar o tal tamanho). Eu pegava outro. Ela falava pra mim devolver eu mesma pro lugar onde o achei, e subia, com má vontade, procurar no estoque. Ela me encontrou um deles, que ficou (PASME) confortável. Tudo bem que náo era lá uma maravilha (pretinho, simples, sem salto), mas era um preço razoavel. Depois encontrei outro bonitinho, que ela resolveu que não tinha. Sugeriu que eu esperimentasse o mesmo em marrom. Ficou bom, mas não gostei da cor. Ela insistiu pra mim comprar o marrom, mesmo, mas repeti algumas vezes que não gostava da cor. Mas agora vem o miráculo: ela ligou para as outras lojas (várias delas), até encontrar uma com o sapato em estoque! Quase caí da cadeira. Paguei tudo adiantado, claro, e ela vai telefonar quando o bendito sapato estiver na loja.
Pessoas, isso é incrível!
Hoje é o aniversário da liberação de Paris. No dia 25 de Agosto 1944 conseguiram se livrar dos alemães. O povo por aqui leva essas coisas muito a sério. Vão fazer várias comemorações pra todos os lados, com os sempre amados desfiles militares. Dessa vez, até estão treinando pra fazer bailes da época, com as roupinhas tradicionais, e as danças de casal. Tenho a impressão que a cidade vai ficar meio infernal essa noite. Mas temos que aguentar, afinal de contas, fazemos tudo por uma boa comemoraçãzinha!
terça-feira, agosto 24, 2004
A gente percebe que o Orkut está realmente lerdo quando todos os messages aparecem 6 vezes. Dá pra imaginar as pessoas apertando "send" freneticamente, enquanto o negócio não responde...
Ele estava sentadinho, pesadão, esperando, quando o vi pela primeira vez. Ele olhou pra mim, eu olhei pra ele. Algo me tentou, queria que fosse meu. Quis conhecer melhor, saber quem era. Mas não era pra ser. Virei as costas e fui embora, com uma dorzinha no coração.
Algum tempo depois, encontrei com ele outra vez. E dessa não quis perder a oportunidade. Peguei no seu corpo, explorei. Fiz tudo para tentar entendê-lo. Resolvi arriscar, e paguei.
...
O livro é muito bom. Me surpreendi. Conta a história de um antigo São Paulo, da época da minha avó. Uma moça inocente, acaba se envolvendo com muita gente diferente, que fazem com que ela suba na vida sem saber muito o que está acontecendo, e ao mesmo tempo, usando e pisando nessas mesmas pessoas. O livro conseguiu, de alguma maneira, me prender a atenção totalemente. Durante o primeiro dia, lendo no metrô esqueci de descer na minha estação. Fui descer 4 paradas depois, tive que pegar um ônibus pra voltar ao trabalho, bem atrasada.
Enfim, Marcos Rey, Café na Cama. Vale a pena.
Acabei mais um! Esse foi fácil demais, e feio demais, e olha que cobrei. Mas cliente desentendido não pede muito, e fica feliz com tudo. Fazer o quê?
segunda-feira, agosto 23, 2004
Irritação, irritação. Hoje é segunda feira, o que já não é uma boa coisa. Fui obrigada a acordar 1 hora mais cedo que o necessário, o que também é péssimo. Cheguei no trabalho, e um dos meus colegas resolveu que como é aniversário dele, não estava a fim de comparecer. (Meu aniversário foi semana passada, trabalhei como um cavalo no dia). A outra foi pra um casamento esse final de semana, e deu "alguma coisa errada" e o casamento foi adiado um dia. Agora me pergunto, o que poderia dar errado num casamento? E adiar um dia? Será que a noiva ainda não tinha certeza? Ou será que o fato da festa ser na Itália, e a vontade de tirar umas fériazinhas à mais não teria algo a ver com a "coisa errada"?
O telefone não pára, o pessoal que aparece sem marcar hora, as perguntas cretinas e a falta de lógica sobrou pra mim. Eu mereço. Essa é uma das semanas mais movimentadas do ano nesse nosso trabalho. Eu mereço.
quinta-feira, agosto 19, 2004
Uma fotogradia tirada pelo namorado de uma amiga, uma onda na Croácia. Fotografia de Dalibor Hrgarek.
Minha ginecologista chiquérrima.
Hoje tentei marcar hora com a minha ginecologista. Ela está de férias, claro. Como todo francês que se preze, durante o mês de agosto. Acontece que também tentei antes de agosto. A doutora estava com o consultório lotado durante os três próximos meses. Mas é sempre assim. Porque ela é muito chique.
Ela cuida das minhas partes íntimas desde que virei gente grande, desde que preciso de ginecologista. Mora no bairro mais chique da cidade, e tem o consultório no mesmo prédio. Dirige um BMV azul marinho, se veste com roupas caríssimas, e consegue ser mega-elegante mesmo vestida de branco, da cabeça aos pés. O anel que ela tem (na mão esquerda, para facilitar o trabalho) deve custar mais do que eu ganho durante o ano todo.
Mas não reclamo de nada disso, porque adoro a mulher. Depois de cada histoória médica francesa... Minha colega foi numa médica que tinha o consultório dentro da própria casa, com o gato e a mãe do lado. Outra que atendia o telefone, e ficava fofocando com a amiga durante a consulta (com a paciente esperando, de pernas abertas, na sala). Por isso não reclamo, e espero os meus três meses pra ter a sorte de poder vê-la...
quarta-feira, agosto 18, 2004
Ontém de noite, depois da historinha descrita abaixo, fui pegar meu metrô na estação Chatelet. Estava cansada, irritada, e com uma leve dor de garganta. Mas ouvi uma voz, do outro lado da estação. Essa voz vinha de uma cantora que passa muitas noites em Chatelet, com seu amigo violão. Uma mulher baixa, gorda, deselegante. Tem os dentes tortos e muito toscos. Tem um péssimo corte de cabelo. Tem pernas grossas e mal formadas. Tem roupas horríveis, e maquiagem mal feita. Mas tem uma voz que deixa a Christina Aguilera com cara de tacho *. E quando ouço a voz dela, páro tudo. Tenho um acordo comigo mesmo: Qualquer compromisso que for, pelo menos uma canção eu escuto. Porque ela canta pop barato, Beatles, ou música francesa brega, mas com uma voz que faz de qualquer coisa uma obra de arte. Tem seus groupies mendigos, que ficam com ela o tempo todo da apresentação, e os turistas e passantes, que dão moedinhas, mas de todos eles, ela recebe um respeito enorme. Chata, ela pára entre cada música, fazendo comentários inúteis, enquanto resolve o que vai cantar depois. Mas todos esperam. Ninguém reclama. Porque ela tem uma dignidade e um talento que não nos deixa escolha: esperamos, com o maior respeito do mundo.
Quem passar alguma vez por Paris, e entrando na estação Chatelet ouvir uma voz feminina, parem um pouco. Eu recomendo.
* Eu considero Christina Aguilera uma perua apelativa, com péssimas canções, mas que - convenhamos - tem uma voz maravilhosa. Just for the record.
Os chatos é que têm razão...
Minha irmãzinha me ligou ontém, propondo um cinema. Estava meio cansada, vou trabalhar dois finais de semana seguidos, preciso dormir. Mas o moral dela está meio pra baixo, e achei que seria legal acompanhá-la. Convidei o Monsieur pra vir junto.
Cheguei no cinema antes deles. Tinham uns 15 filmes passando, dos quais 12 eram uma porcaria, 1 era pesado e triste, 1 era comédia boba, e outro um filme de criança. Mas como sou uma pessoa legal, e como estava pra assisitir um filme com duas outras pessoas, resolvi ficar com a mente aberta, e esperar ouvir a opinião deles. Com bom humor. Chegou o Monsieur, olhou os cartazes, e começou a reclamar. Não gostou das opções, dos horários, do lugar, do fato que a gente não tinha resolvido qual filme veríamos, etc. Fiz algumas sugestões, optando pela calma, sutileza, e falta total de pressão. Chegou minha irmã. Sem ter a mínima idéia do que se tratavam, sugeriu outros filmes, bem diferentes. Expliquei (com calma, sutileza, e falta total de pressão) que eram ruins, e que ela não ia gostar. Deu briga, e emburramento geral entre os dois. Tentei ficar neutra, sem impor minhas vontades, pra tentar agradar os dois. Eles, com suas cabecinhas de mula, continuaram intransigentes. Entrei na fila, sendo que o lugar já estava lotando. Eles continuaram brigando até chegarmos ao caixa. Á essa altura a maioria dos filmes estavam quase totalmente lotados. Optamos por Shrek2, que ainda tinha algumas vagas. Ela emburrou porque não queria ver "homenzinhos verdes, em vez de gente de verdade". Ele emburrou porque não queria ver o 2 antes de ver o 1. E eu sentei entre os dois, tentando entender, e simpatizar com todos.
Mas pensando bem, que saco! Porque tento ficar legalzinha, optar pela paz entre pssoas que sentem vontades diferentes, e no final, tenho que arcar com as caras emburradas dos dois!
O filme foi bom, engraçado e bem feito. Não tão bom quanto o primeiro, mas muito bom. Mas a experiência de ir ao cinema perdeu todo o encanto, com a chatice dos meus dois companheiros. E pra que serve toda a minha boa vontade, flexibilidade, e tetativas de impor a paz na terra, se os outros não colaboram? Acho que vou virar uma chata, como eles. Vou tentar impor minhas vontades e desejos em todos, e assim vou lidar com as caras feias, mas ao menos, tenho uma chance de escolher o filme que eu queria assistir.
segunda-feira, agosto 16, 2004
Final de semana agitado. Minha amiga que morou em Londres um ano está de passagem, antes de voltar pro Brasil. Fizemos programação turistica-cultural. Andamos muito, o dia todo. Depois de bolhas no pé e muito cansaço, voltei pro trabalho. Fomos, entre outras, no Centro Pompidou, um dos meus lugares preferidos nessa cidade. Tinha exposiccedil;ão de Giuseppe Penone. (O homen não tem site próprio, que pobreza. Ninguém avisou que sou eu a pessoa perfeita para completar todas as suas necessidades internéticas?).
Fiquei babando. Ele fez, por exemplo, esculturas com árvores, onde ele pegava um tronco, e ia descascando as camadas, uma a uma, até chegar num centro qualquer, quando a árvore era crianccedil;a. Mas ele deixava os galhos, que eram desenterrados, re-construindo a estrutura e textura antiga. Fez muitos trabalhos com seu corpo e a natureza, tentando deixar as pegadas de um no outro. Uma das salas da exposição era todinha forrada com folhas, escurinha. As pessoas entravam respirando fundo, porque o cheiro e o ar puro eram o que mais se sentia. Dava uma vontade incrível de deitar no chão e passar a tarde toda respirando.
Depois passeamos muito, aproveitando o finalzinho do verão. Ontém tivemos um bando de gente jantando em casa. Entre eles um mocinho que talvéz alugue o quartinho sobrando em casa. Um mexicano, muito simpático. Artista, de mil e uma utilidades. Tomara que dé certo. Um chico pra tomar um lugar da chica. Veremos.
sexta-feira, agosto 13, 2004
Daqui à pouco vou fazer aniversário. 29, quase 30. Mas por favor, não me mandem recadinhos de parabéns. Eu sou contra aniversários. Tipo, não acredito nessas coisas. Acho uma bosta. Quem quiser me dar presentes, tudo bem, isso a gente nunca reclama. Mas gosto de presentes porque a pessoa pensou em mim, e que foi espontânio, que foi sincero. Presente por obrigação não rola.
Foi assim: um dia estava lendo uma entrevista de uma modelo maravilhosa, que vinha de algum país Africano. A mulher era fantástica. Mas teve problemas porque não tinha documentos, e não conhecia sua data de nascimento. Na tribo dela as pessoas não contam os anos. Ninguém tem aniversário. E ninguém tem idade. Cada um tem sua experiência, seus conhecimentos, sua sabedoria. Os que sabem mais têm mais respeito dos outros. E pronto. Sem neuras de que alguém é velho/novo demais pra aprender, pra trabalhar, pra se aposentar, pra se apaixonar. Não tem limites de idade pra nada. Porque idade não significa nada. Cada um vive a vida que sente capaz de viver. Não tem gente olhando pros outros pensando que alguém tem rugas demais pra sua idade. Não tem gente que produz doenças psicológicas porque está na idade de envelhecer; ou de estar mais gorda/magra; de ter filhos ou não os ter; de ser bem sucedido; ter apartamentos, casas, empregos, grana, e carros melhores. Nada disso. Cada um no seu rítmo.
Pois então. Também quero essa vida, essa atitude. Não quero ficar aqui pensando que com 30 anos devia ter feito tal coisa, e devia ter ganho tanto, e trabalhado tanto, e ter 2.1 filhos, e marido, e casa própria. Quero viver minha vida em paz, de acordo com o que passa na minha cabeça, sem pressão.
Por isso tenho horror do meu aniversário, e de festinhas e comemoraçõoes forçadas. E de julgamentos sobre a idade de cada um. E que eu tenho cara de mais nova. E que eu devia estar casando. E que eu devia estar contente com o dia em que vou fazer meus quase 30 anos.
Hum... Então, mudei os comments. O sistema do blogger é uma merda. Botei esse SquawkBox. Mas tambem é meio limitado... Me ajudem a testar... Comentem!
quinta-feira, agosto 12, 2004
Meu amigo Chico
Consegui, através de meu dealer literário, uma coleçãozinha de livrinhos em português. Um deles foi Budapeste, pelo qual estou babando desde muitos meses. Minha mãe já tinha me informado do quanto maravilhoso é o Chico. Depois, quando trabalhava no Café Deux Magots, num belo dia chuvoso, eu viro pra sala e vejo nada mais, nada menos, que Chico sentadinho com sua filha. Eu quase que despenquei no chão. Como esse café é muito chique, eu era somente hostess. Garçons eram todos homens, sempre. Por isso não tinha o direito de servir a mesa deles. Puxei a manga do garçon da mesa dele, expliquei quem era, supliquei pra fazer um serviço 5 estrelas. O garçon não entendeu pra que tanta frescura. Quem merecia tratamento especial era o Raí, que na época passava também pelo café. Afinal das contas, quem era essa carinha, comparado a um astro de futebol??? Sorri amarelo, e pedi pra ele ser legal, só por mim. (O serviço em cafés chiques francesas são de dar vergonha). Chico e sua filha maravilhosa tomaram um chocolate quente. Eu me escondi atrás do caixa, e só observei de longe, torcendo as mãos e mastigando as unhas. Quando eles foram embora, fiquei do lado da porta, dei um sorrizo gigante, e falei "voltem sempre" em português. Eles deram uma olhadinha na minha direção, e agradeceram. Eu quase morri. Desde então dei razão à minha mãe, e também li Estorvo. Daí dei mais um pouco de razão à minha mãe. E Budapeste é maravilhoso. Quem não leu, vai lá, vale a pena!
Revolução:
Coloquei comments! Nunca tinha feito isso antes, porque não gosto de gente que vem fazer auto-promoção em blogues alheios. Portanto aviso: vou apagar comments do tipo "venha visitar meu blogue". Se quiser deixar um comment, que comente então! Muito grata...
However, achei uma porcaria esses comments do blogger. Alguém tem sugestão de um sistema melhor?
quarta-feira, agosto 11, 2004
MUDAR Edson Marques
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado darua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dâ os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros, Viva outros romances. Não faça do hábito umestilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. a nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outrosrestaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Se você não encontrar razíes para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!!!!
Quem está no Orkut pode me explicar pra que serve esse negócio? Porque estou lá dentro, bonitinha, e entro quase todos os dias, mas ainda não entendo muito bem porqu?. Mais uma inutilidade agradável? Ou tem outro sentido, que ainda não chegou nessas terras?
Muito grata.
Seu Rogério
Ganhei, um dia desses, um livro. A pessoa que me deu esse presentinho não me conhece muito bem, e resolveu me fazer um agrado, sem antes tentar entender quem eu sou. Se tivesse feito isso, teria mudado de idéia sobre o tal presente. O livro conta historinhas sobre soldados, durante a segunda guerra mundial. Adoro livros, mas sem essa de guerra. A coisa que eu mais odeio no mundo é guerra, e militares. Isso vem de quando eu virei gente grande, e aprendi a pensar. Não acredito em matar pessoas, não acredito em violência. Conheço o papo clássico: se não tivesse gente pronta a lutar, a europa estaria falando alemão. Tudo bem, tudo bem. A europa seria toda loirinha. E eu amo morenos. Mas tudo bem. Não tenho um argumento lógico, mas não acredito em guerras.
Um dia, quando era adolescente, minha mãe entrou no meu quarto pra anunciar que meu avô tinha morrido. Na verdade, eu já sabia. Seu Rogério ficou com cancer. Seu corpo foi parando de funcionar, pouco á pouco. Eu já tinha me despedido dele. Lembro muito bem da última vez que vi meu avô. Ele estava na cama dele, no sítio onde passou a ultima parte de sua vida. Ele não acreditava em hospitais, e tubos e remédios. Resolveu morrer em casa, tranquilo. Sai do seu quarto, e fui assistir o por do sol do lado de fora, na balança que eles colocaram na árvora na frente de sua casa. Enquanto observava o céu mudando de cor, pensava no meu avô.
Tenho pena d'ele ter morrido quando eu era jóvem. Porque queria ter conversado com ele agora, que sou gente grande, com ideias formadas. Na época eu não pensava em muita coisa além das preocupações clássicas de adolescentes. Mas agora penso muito como ele.
Seu Rogério nasceu durante a Primeira Guerra, na França. Seu pai era soldado. Lutou lá na frente, defendendo sua pátria. Presenciou coisas horriveis. Foi ferido, e ficou um bom tempo no hospital. Quando se recuperou, o colocaram pra dirigir ambulâncias. Foi lá que ele viu coisas piores ainda. Quando voltou pra casa ensinou o filho o que aprendeu: Nada disso vale a pena. Faça o que quiser na sua vida, mas nunca, nunca, vá pra guerra.
Quando meu avô fez 18 anos, estava na época da Segunda Guerra. Convidaram ele pra fazer seu serviço militar. Ele disse não. Não acreditava em militares, não acreditava em armas, não mataria outro ser vivo por nada nesse mundo. Muito menos pra defender uma pátria delimitada por fronteiras que não existem na natureza.
Colocaram ele na prisão. Quando foi solto, enviaram ele de volta ao serviço militar. Ele se recusou, foi preso outra vez. Isso aconteceu três vezes. Na terceira vez que o soltaram, pegou um navio pra Inglaterra, e jogou seu passaporte francês no mar. Nunca mais voltou ao seu país, nunca mais viu sua mãe.
Na Inglaterra, conheceu minha avó, fez um filho. Depois se juntou a um grupo de pacifistas, que fugiram da Europa, e foram fundar uma comunidade no Paraguai, país que aceitou um bando de jóvens sem documentos, e sem dinheiro. Fez mais 11 filhos, entre eles, meu pai.
Não sei o que ele diria ao saber que moro no seu país, que aprendi sua língua. Mas acho que ele ficaria feliz em saber que sua neta continua pacifista como ele. E que tem arrepios ao ver meninos vestidos com roupas militares, carregando máquinas de matar pessoas, e executando órdens que nem entendem. Ficaria feliz de saber que sua neta não consegue ler livros sobre soldados e guerras que matam mas não resolvem nada.
|